19.06.2015 / Crônicas

Ela temperava os bifinhos de alcatra bem devagar. De um lado: pitada de sal, pimenta do reino e shoyo. Virava as carnes e repetia o procedimento. Na hora de fritar, era com manteiga fervente. Um pouquinho de cada lado. Ia dispondo um a um na travessa. No fim, escorria o caldinho da frigideira sobre os bifes e levava à mesa. O arroz também era feito meticulosamente igual todos os dias, na panela ...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

No restaurante a quilo, vários personagens e uma coisa em comum: mal prestam atenção no que botam pra dentro da boca com o garfo e encontram companhia no almoço pelo celular. Seguram o talher com uma mão e na outra teclam animadamente. O rapaz bonito usa uma camisa preta de malha sem mangas, amarrou o cabelo num rabo de cavalo, mas não está brega. E tem um quê de Don Juan de Marco, de J...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

A palavra que dá título a este texto parece um verbete em desuso, uma palavra antiga, daquelas ditas por nossos avós. Interessante observar como até seu som parece ultrapassado, datado. E o quanto isso é elemento para traçar um paralelo com sua força (fraqueza?) semântica nos dias de hoje. Ser cordial está démodé? Ou, para usar uma expressão atual, é old-fashioned? Ou seja, saiu de...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Já se vão 20 anos desde que o cineasta Joel Schumacher lançou ‘Um Dia de Fúria’, com Michael Douglas. O nome em português virou expressão. O original, ‘Falling Down’, exprime a decadência de um homem, que em seu limite resolve deixar de lado a boa vontade com tudo que atrapalha seu caminho e que está errado, e sai atirando em geral. Não dá para negar, sem querer incitar a violên...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Uma vez, na faculdade, o professor de Filosofia falou que adorava varrer a casa, porque ia olhando o pó, o que ia varrendo pelo chão, e se pegava pensando em cada montinho de poeira como se fosse um indivíduo e ali ia reunindo pessoas e vendo o quanto são diferentes. Ele estava se abrindo, embora pouca gente da turma tenha captado a mensagem. De repente, estavam reunidas na pá e, pow, voavam ...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Eu tinha uns 13/14 anos, fazia teatro e achava supercool gostar de Oswaldo Montenegro, que se apresentava com sua trupe lá perto de casa. Ele estava no auge de seus 30 anos e, antes de subir ao palco, tomava cerveja com umas mulheres igualmente lindas na padaria da esquina. Eu me oferecia para ir dez vezes comprar algo para minha mãe: pão, cigarro... É, no tempo da minha adolescência, não er...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Todos nascemos com um limite intransponível: a morte. Mas se vivêssemos pensando nele, nada realizaríamos. Quando minha mãe foi diagnosticada com uma doença degenerativa, por anos não aceitávamos aquela condição. Entrávamos e saíamos de consultórios, num deles já sendo conduzidas à porta, ao ouvir do médico: “Vocês entendem mais da doença da sua mãe que eu, sendo assim não pos...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

A primeira vez que você vai à casa de alguém, quando observa cada objeto, imagina cada história que ele tem, descobre os gostos, o estilo, o olhar. É uma sensação parecida de quando se via álbuns de fotos de outras pessoas, quando elas voltavam de viagem. Se eram boas fotógrafas, logo descobria-se muito mais do que o que estava ali estampado no 10x15. Você viajava além. Com atenção, a...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Na varanda do bar de frente para a praia em Ipanema, o grupo de pagode começou a tocar. Ficou por ali umas duas músicas, sem que os funcionários soubessem se estavam gostando ou não. Olhavam em busca de respostas para os clientes. Uma gringa filmava, outro grupo levantou para fotos, mas os brasileiros ficaram visivelmente incomodados, pois aquele barulho estava atrapalhando as conversas. Como ...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Já fui muito criticada por isso, mas sou daquelas que acham que o trabalho enobrece o homem. Aquele pensamento bem classe média, de querer carteira assinada e casa própria. Enquanto que para uns isso representa a prisão, para mim sempre representou a liberdade. Não quer dizer que seja a forma correta de pensar, mas é uma forma, o meu modo de encarar as coisas, o meu certo. O trabalho me deu ...[continuar lendo]