Fazer vinho é uma arte. Primeiro você escolhe a uva e suas folhas darão a textura da tela, uma planície verde que se estende por quilômetros. Seus galhos vão crescendo e sendo moldados à procura da melhor iluminação. Suas flores e frutos desabrocham e essa tela passa a ter novas texturas e cores. O verde ganha tons rosados, que se transformam com o tempo em rubi profundo, dependendo do tipo da uva. Com a colheita, essas cores somem da tela e serão engarrafadas, distribuindo pelo mundo pequenas porções dos sabores daquela obra. O inverno chega e a tela perde definitivamente seus tons, adquirindo ares de natureza morta, numa textura retorcida de galhos nus. E tão complexa é essa arte que os donos dos châteaux em Bordeaux resolveram dar a ela outros estilos.
No Château Pape Clement, um verdadeiro castelo que pertenceu a um dos papas franceses, tomba do pinheiro um colar de pérolas gigantes de Murano. Suas contas brancas e verdes somam-se ao rubi das Cabernets Sauvignon e Merlots. No Château Soutard, um cão atento guarda pacientemente a plantação. A riqueza do seu dono que o tempo faz brotar da terra tinge esse cão com o vermelho de seu suco. O mesmo animal ganha nos jardins a companhia de Baco, o Deus que impera sobre a embriaguez de tanta beleza. E do outro lado do lago a necessidade, não aquela urbana, corrida e tumultuada. Mas uma necessidade plácida, refletida em águas calmas, que move o homem em sua criação e inspira novidades. E a poesia se estende para o Château Chasse-spleen, onde o vinho descansa em barris sob teto de linhas gráficas que se encontram no infinito da perspectiva. Gigantescas botas, deixadas no jardim, lembram os trabalhadores que transformam essa arte perfeita da natureza em delícias saboreadas mundo afora.