24.05.2016 / Coisas bacanas
Amar cura: conheça #umaflorumsorriso

Me chamo Julia Pastore e sou palhaço desde 2009, quando eu e a Manu Berardo, minha parceira de intervenção poética, resolvemos experimentar a linguagem da palhaçaria em nossas performances. Assim que o “paiaço” Castilho nasceu, ele, além de falar poesia, também saía sozinho por aí, pegava ônibus, trem, entrava no mercado, puxava conversa com as pessoas, contava uns causos e brincava com as crianças. Passei a comprar flores (aquelas bem baratinhas mesmo), ou andar com um pouco de guardanapos no bolso para escrever poemas e oferecer a quem me cruzasse o caminho – sempre em troca de um sorriso. Comecei a divulgar essas saídas nas redes e fui contratada pra realizar intervenções em empresas, shoppings e eventos de rua, até começar a ir para os hospitais.

uma flor um sorriso

Julia, de amarelo, de frente, com seu buquê de flores em visita a hospital pediátrico

Pela minha experiência artística e como paciente, creio que o que falta nas relações humanas é a conexão. Olhar no olho e reconhecer outro ser humano. Entendê-lo, abraçá-lo, estar ali com ele. Estar ali por ele. Dar as mãos, cantar, de alguma forma afetiva e pessoal oferecer a nossa presença. Sempre digo que nos esbarramos o tempo inteiro, mas não nos conhecemos.

Convidei dois amigos, a Mariana Rosa e o Bruno França, para integrar o elenco da campanha #umaflorumsorriso. A partir de uma oficina ministrada pelo grande palhaço Marcio Libar, escolhemos mais três amigos pra brincar: Renato Garcia, Juliana Brisson e Daiana Martins. Ademir de Souza nos dirigiu e oferecerá uma oficina de palhaços pelo projeto que está sendo financiado pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio através do edital Viva a Arte! Pensei no seguinte gesto: a pessoa ganha uma flor e poderá entregá-la a uma outra pessoa, que dará a outra, e por aí vai. Assim, espalhamos amor.

O que me faz pensar sobre a necessidade de levar manifestações artísticas para dentro do sistema de saúde é minha experiência internada com trombose venosa profunda na perna (depois dos partos de meus dois filhos), como usuária do sistema de saúde pública e como ser humano que já pisou num hospital psiquiátrico, geriátrico e pediátrico do Rio. Nossas visitas aos hospitais têm nos provado que há, sim, uma grande mobilização pela humanização, pelo fim dos manicômios, pelo médico de família, mas ainda há toda uma estrutura política que não permite grandes avanços no sentido de promover bem-estar aos pacientes, enfermeiros, médicos, profissionais de limpeza e seguranças.

Essa campanha é para que se olhe com cuidado para os nossos idosos, para as nossas crianças e para os nossos excluídos. E para que nos olhemos todos, por um instante, e possamos sorrir. Queremos tocar o coração das pessoas. Acreditamos que a flor abre um portal mágico, um campo de força contra a violência e a favor da paz. A flor é uma arma poderosa que tem o poder de fazer as pessoas sorrirem. Ela pode mudar o dia e consequentemente a vida de alguém. Pode mudar o mundo. Somos revolucionários. Queremos que essas flores vão parar na Síria, no Egito, em cada parte do mundo.

Amor e gentileza nunca são demais e nunca passam despercebidos, acredite!

uma flor Julia Pastore

Sobre a autora deste texto, especial para Eu Vejo Beleza:

Julia Pastore, que é palhaço, distribui afeto no comando de uma revolução: a ideia de humanizar os sistemas de saúde.

Fotos Rodrigo Pastore