Hoje é Dia da Terra e também o dia em que os países irão assinar o acordo da ONU de juntos agirem para evitar o aquecimento global previsto em 2ºC. Mas o fato de termos que ter um Dia da Terra diz muito sobre a forma que o homem enxerga sua relação com ela: imperialista, de pegar o que interessa e usar como quiser. Só que quem perde com isso é o próprio homem, que num pacto coletivo de “desenvolvimento” – capitalismo selvagem – cria regras onde o respeito não passa nem perto.

Perde o homem não entendendo que a Terra, o planeta, continua sem nós. Mas nós não continuamos sem o que ele nos oferece diariamente: água, ar, alimento, acolhimento.

Tá na hora do mesmo homem que criou esses pactos, rever seu papel e sua forma, com o risco de ele mesmo ser extinto. Estamos cegamente, ou não, caminhando pra uma vida muito difícil pra gente por aqui.

E nesse dia, e em todos os dias, eu afirmo meu pacto, minha missão, meu propósito de ser uma guerreira na defesa da Terra, mas só porque amo incondicionalmente a raça humana e enxergo nela um potencial criativo ilimitado de fazer diferente, de repactuar nossas escolhas. Nossas, nós! Que lutemos não por um partido, por um governante, por nosso salário no fim do mês, mas por uma vida com respeito e mais abundância.

E hoje conto aqui a minha história, uma história que prova que sempre há melhores escolhas a serem feitas. Em janeiro de 2015, inspirada pelo documentário ‘Trashed, eu me lancei um desafio: usando um copo retrátil, quantos copinhos descartáveis de plástico eu deixaria de descartar? Ou quantos pequenos lixos deixaria de produzir? Minha intenção era mostrar pra mim mesma, e assim inspirar outras pessoas, o quanto o indivíduo tem o poder de transformação literalmente na sua mão. Um ano depois, foram 1.618 copos economizados por mim, uma plataforma que atingiu mais de 7 milhões de pessoas, com embaixadores de peso, celebridades e influenciadores, que ajudaram a espalhar a mensagem de empoderamento do ser humano e que sim, é de 1 em 1 que vamos somar pra mudar a realidade à nossa volta. No caso, contribuir para a preservação do planeta e, em consequência, da raça humana.

O Menos 1 Lixo, com essa simples iniciativa, ajudou a poupar 12 milhões de copos que acabariam nos aterros e lixões, quando não nos mares, rios e lagos do nosso país. Esses 12 milhões de copos significam 6 milhões de litros de água usados no processo produtivo dos copos descartáveis, e um despertar de consciência para milhares de pessoas que usam seus copos no dia a dia e espalham essa mensagem por aí.

E prestando atenção no copo, só no copo, vem uma análise mais profunda da forma como pensamos e atuamos em sociedade. Se você parar pra pensar, descartamos tudo à nossa volta: copos, talheres, sacolas de supermercado, papeis, embalagens para viagem, móveis, e pessoas. Sim, estamos tão acostumados ao descarte, que nossa forma de pensar os objetos passa para as relações, e para a nossa forma de conexão com o planeta.

Se você parar pra pensar, um copo descartável que gasta mais de 500ml de água pra ser produzido, usa combustíveis fósseis como matéria prima e para o transporte até a loja, lanchonete ou escritório, emite gases de efeito estufa, e fica por 100, 200, 300 anos por aí – vai saber – pra ser usado uma vez, para uma pessoa beber 300ml de água, ou 100ml de cafezinho, em um tempo de vida útil de 30 segundos, 1 minuto, entre sair do porta copos e ir para o coletor de copos usados, deveria existir? Faz sentido esse produto? Será que não temos nenhuma alternativa melhor em pleno 2016 com tantas tecnologias disponíveis? Quem paga essa conta? Qual o custo ambiental de um copo inofensivo? Eu não sei exatamente, mas me arrisco a dizer que é a sobrevivência da raça humana, e o equilíbrio das espécies que também habitam e têm direito a um planeta preservado das loucuras e do ego do homem.

O Menos 1 Lixo causou e ainda causa uma profunda transformação na minha vida. Achei meu propósito nessa encarnação. Estudando a sustentabilidade entendi que a minha vida não era nada sustentável em aspectos tão diversos como o respeito aos meus ritmos, o quanto ouvia minha intuição, e até a forma que havia escolhido para trabalhar e ganhar dinheiro. E esse processo está só começando.

E eu convido você a entrar nesse movimento, usar o copinho do Menos 1 Lixo, sem moderação, e a contar quantos copinhos deixou de descartar em uma semana. Depois, conta pra mim como foi sua experiência.  Eu sou a Fe Cortez, e eu sonho com meu planeta com Menos 1 Lixo. E você?

Sobre a autora deste texto, especial para Eu Vejo Beleza:

Fernanda Cortez é fundadora da Menos 1 Lixo e acredita que enquanto tivermos um Dia da Terra, é porque não entendemos ainda nossa relação com ela.

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