13.11.2016 / Crônicas
Quero ser grande

‘Quero ser grande’ extrai o melhor de nós. É o tipo de filme que faz toda a diferença ver com 13, 23, ou 43 anos. Mais velhos, ficamos seguros e conscientes do quanto a vida adulta, com cinismo inerente, envolve a todos com uma camada de instinto de sobrevivência muitas vezes desnecessário. Em 2018, a história, que virou clássico e fez o mundo se curvar à doçura de Tom Hanks, fará 30 anos. Nela, um garoto consegue se tornar adulto depois de fazer um pedido numa máquina de um parque de diversões.

Como é moderno e sempre será! Traz embutido o conceito das startups, o investimento em pequenos gênios criativos como um Zuckerberg de outrora, o olhar fresco da nova geração. Expõe um ponto crucial da mudança de chave da vida, em que substituímos o instinto e a criatividade pelo aprendizado posterior e inativo. Como uma brisa que leva para o lado oposto a sujeira, deixando a aura limpa e livre dos desgostos que vêm a seguir. Mas ao contrário.

Numa cena, em uma reunião da empresa, o menino/homem Josh diz que “não entendeu” algo, porque de fato não entendeu, e seu oponente fica indignado, ora, como não entendeu, estava bem claro no relatório. Sim, estava no relatório, nos PPTs, mas aonde estaria a raiz da questão? A alma? Não é saber aplicar a fórmula, é entender o porquê de seu uso, em que ela vai trazer um resultado original.

Quando o personagem quer voltar a ser criança, explica para a namorada adulta que tem todos os motivos para rever a família e apenas um para ficar (ela, o único genuíno ali). A vida é cheia de meandros e obstáculos, como se estivéssemos dentro de um jogo de Pac Man – para citar os anos 80 – e, quando estamos comendo aqueles tracinhos próximos ao final feliz, surge um monstrinho vindo em sua direção e pronto, nem sempre dá tempo de voltar, acabou nossas vidas. Ele convida a namorada para vir com ele, voltar a ter 13 anos. Ela não aceita, pois foi difícil chegar até ali. Eu entendo. Voltar só seria pleno se estivéssemos zerados. E então, para quê?

Seria tão fácil se conservássemos a pureza da infância, a ingenuidade. Eu não quero ferrar você. Simples. Onde e em que tempo esse modus operandi começou e se consolidou eu não sei. Poderia pesquisar se foi com a Revolução Industrial e o início da era do capitalismo, ou mesmo em alguma década já do século 20, mas talvez seja desde sempre, independentemente da corrida ao mercado de trabalho e competitividade. E aí abrir esse parêntese já seria assunto para uma outra crônica… Eu só quero ser grande sem perder a leveza.