14.02.2016 / Crônicas
O sal da liberdade

Na véspera não foi muito diferente, mas foi a habilitação. Entramos para um mergulho e a água estava tão boa, que ficamos. Nisso, veio uma onda maior, mais distante, que nos levou a pensar rápido e nadar em direção a ela. “Pula ou mergulha?” Pulamos. Deu. Virando o rosto um pouco pra areia e olhando pra frente em seguida, pois adiante vinha outra: mais para dentro e mais alta. Já estávamos quase no pé dela, nos olhamos e mergulhamos, não deu tempo de combinar. A sequência foi forte. Aí acalmou. Nos olhamos orgulhosas: “Foi demais”. Saímos da água com a parada ganha depois dessa série.

No dia seguinte, depois de uns 10 anos sem frequentar o Arpoador, fomos para lá de novo. O mar estava de uma cor que não consegui ver nem no Caribe. Lindo. Eu tinha outros planos, quando recebi a mensagem: “Bora pra praia?”. Era dia de semana no meu período semissabático e eu, Caxias (ou Juquinha, como fui chamada outro dia), planejei alguma burocracia ou trabalho. Lembrei do que senti ao furar aquelas ondas, peguei a bicicleta e fui. No meio do caminho, que não sei por que escolhi o mais longo, talvez por estar desconsertada com a liberdade, vi que só tinha 10% de bateria no celular. Impossível para mim. Mas o “pior”, ou melhor, estava por vir: esquecera também a caixa dos óculos em cima da mesa, com cartão e dinheiro. Escrevi para Paula: “Me paga um mate?” E, assim, cheguei, sem telefone e feliz. Eram vários indícios de libertação.

Com minha comadre e minha afilhada, sugeri andarmos até perto da pedra, no Posto 7, pois lá estava mais calminho para mergulhar, lagoa. Cientes do meu medo do mar, e com conhecimento de que eu não passo da espuminha, as duas concordaram em me acompanhar. Custamos a mergulhar, respeitando as ondas que chegaram com a gente. “Está uma piscina. Vamos lá?” Fui, para não envergonhar a pequena, de 8 anos. Quando passamos da arrebentação, foi incrível. O mar estava mesmo para peixe, com cardumes ao redor do nosso corpo. Nos olhamos emocionadas, olhamos para os Dois Irmãos, não acreditamos. Estávamos ali no mar turquesa muito livres. Duda sugeriu: “Vamos voltar pela água?”. “Está louca? Não tenho fôlego!”. “O que é fôlego?”, perguntou a menina, e expliquei rapidamente. Quando vi, já estávamos voltando pelo mar, admirando as coberturas dos prédios, os peixinhos que nos acompanhavam na água cristalina, os Dois Irmãos. Uma emoção sem limites. O corpo todo soltou, as narinas livres, a água parecia renovar todo o sangue do meu corpo, meus olhos brilhavam. Saímos da água em frente à nossa barraca. Eu me senti 20 anos mais nova.

Ao longo do dia, foram mais uns dois mergulhos longos de pelo menos 20 minutos cada, enfrentando ondas enormes para mim e olhando o sol baixar ao lado do morro. Uma hora eu dourada, outra no contraluz. Saí da água e um amigo veio correndo: “Você enganou todo mundo. Sempre disse que não sabia nadar!”