13.02.2017 / Crônicas
O exato momento

Uma criança correndo na praia, brincando sem nada pensar… Correndo em busca do que nos é mais caro: o momento. Tem uma amiga com quem aposta corrida até o metro seguinte e a beira do mar. Correm para a espuma e voltam, fugindo das ondas grandonas… rodam ao redor do bambu fincado na areia com uma bandeira vermelha indicando perigo, mas aquele sinal só serve de apoio para que eles girem e girem, até ficarem tontos. E quando ficam tontos, correm para um lado, e depois para o outro. Sorriem, correm, fogem, abraçam-se e afastam-se… e assim, a brincadeira começa de novo.

Rodo mentalmente e vou estalando o pescoço, como se a leveza entrasse em formato de feixe de luz, rabiscando o meu corpo e buscando na memória afetiva o prazer de nada pensar… livre de todo e qualquer peso da vida, imposto por situações inerentes ao mundo civilizado, tão sem civilidade. O julgamento sai de mim e pouco importa o que não é importante. Eu só quero ser como as crianças e lembrar depois de que eu não deixei aquele minuto precioso para trás. Se eu passei por ele, eu observei, me concentrei no aqui e agora, vivi.

Às vezes dá para sentir que a cabeça pesa mais que o restante do corpo e soltá-la não é simples. Quantas histórias se perdem por desencontros inexpressivos, amizades que se vão por bobagem, desatenção… todos correndo para um ponto final que não existe. E esse ponto não é quando cada um quer. É como numa sessão de análise, não é você quem conclui e encerra… é o seu raciocínio interrompido num ponto que você não interromperia. Estamos habituados a pensar como queremos, desencadeamos os pensamentos no nosso ritmo, e isso pode nos levar a conclusões equivocadas, ou a um corte da cena no momento que não seria o ideal, o propício, o caminho onde você deveria chegar.

Como uma realidade paralela, com desfecho diferente. Agoniante.

Sem querer fazer spoiler, ou confundir mais do que esclarecer, quando você não está no lugar certo a sensação é como uma das cenas finais do filme ‘La La Land’, em que o presente é desconstruído até um passado que não existiu e conduziu a personagem ao final que seu coração desejava, mas não ao final que chegou de fato. Não quer dizer que aquela realidade seja triste, embora nos soe assim. É apenas diferente. Diferente do que se imaginou, mas praticamente não se teve ingerência sobre aquele futuro. As opções foram outras e uma curva que viramos à esquerda muda todo o nosso destino. Por isso, o que vale é o agora. E agora eu só quero correr em direção ao momento. Como aquelas crianças da praia.

criancas