08.04.2016 / Crônicas
Bem-amado

A diferença entre ser bem-amado e não ser muitas vezes é o querer. Assim como boa parte das coisas na nossa vida, temos que ter uma inclinação àquilo. Querer amar, querer ser feliz, querer escolher isso.

Está chateado? Muitos fatores são alheios à nossa vontade. Mas outros, não. Quantas vezes você não se pegou pensando “por que eu tenho que passar por isso?”. Eu, várias. Por que perdi pai cedo? Por que mamãe teve uma doença degenerativa e morreu aos poucos? Por que nada para mim veio fácil?

Mas também posso mudar essa forma de pensar.

Por que tive um pai que me admirou tanto em tão pouco tempo? Por que tive uma mãe tão delicada e discreta, que raramente se abalava? Está vendo só? Tudo tem dois lados. A verdade não é uma só. Depende de como queremos que ela seja.

Voltei para casa a pé. Está um dia lindo de outono, e entre gastar com táxi e gastar com chope ou água de coco, escolhi a segunda opção. De quebra, ganhei um dia lindo diante de mim para admirar. Isso não tem preço: quando a gente tem certeza de que fez a escolha certa.

Muitas vezes, a vida tira a nossa poesia, nossa ingenuidade. Nos achamos muito espertos sem ser, pois somos ansiosos em saber tudo. Temos sempre a primeira resposta, ouvimos pouco, sem nos darmos conta de que estamos nos tornando tolos. Eu tenho muito a dizer, cada vez com menos pressa. Pois quero você comigo. Então peço que tenha paciência para me ouvir. Porque quando a gente não tem o que dizer é melhor ficar quieto.

O garçom me entrega o chope e a comida: “Eu trabalho aqui há 13 anos. Não reclamo, não”.

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