03.12.2015 / Coisas bacanas
A tiquira é coisa nossa

Palavra da moda entre os amantes de viagens, Wanderlust – que em alemão significa “vontade de sair por aí” – define bem o estado de espírito da carioca de ascendência germânica Margot Stinglwagner. Depois se formar em Direito, trabalhar no mercado financeiro e até como designer, ela partiu para o Nordeste brasileiro em busca de um novo desafio e acabou abrindo a fábrica da Tiquira Guaaja, aguardente de mandioca originária do Maranhão, produto típico da região pouco conhecido no resto do país e antes produzido de maneira artesanal.

“Fui ao Maranhão para montar uma pousada, mas o grupo se desfez. Não gosto de ficar parada. Aí, descobri a tiquira em Santo Amaro, beirando os Lençóis Maranhenses”, relembra a empresária, que foi estudar sobre a bebida. Neta e filha de cervejeiros, ela fez um curso no Centro de Tecnologia em Cachaça, em Minas Gerais, para aprender destilação e comprou o equipamento. “Levei no carro e fiz experiências na cozinha de casa, onde montei um alambique.”

Tiquira Guaaja é um destilado típico do Maranhão feito com mandioca, produto 100% nacional

A tiquira é um destilado típico maranhense feito com mandioca

Com o resultado positivo, ela ficou na dúvida de onde começaria o negócio. “No Rio, conheço pessoas, tenho facilidades. Porém, se eu fizesse fora, o Maranhão ia ficar sem a tiquira. Decidi instalar a fábrica lá, uma das regiões mais pobres do país”, recorda-se. Margot preferiu também contratar os pequenos produtores locais. “A gente incentiva a agricultura familiar, pois eles vivem em torno da fábrica e tinham de ter a renda deles”, avalia.

Por conta do projeto, a Tiquira Guaaja – cujo rótulo leva o nome de uma tribo indígena maranhense – passou a integrar a Faretrade, organização que apóia o comércio justo e estreita relações entre pequenos produtores e fabricantes para melhorar o equilíbrio econômico e social. “Não tiramos o produto do local de origem. Não seria ético”, defende.

Para fazer o negócio andar, Margot enfrentou resistência até dos maranhenses. “Notei que eles tinham preconceito com a tiquira porque ela era uma coisa de fundo de quintal. Há lendas de que quem bebe morre. Ela era vendida em garrafas PET. Por isso, idealizei uma embalagem bacana”, revela.

Além de movimentar a economia local, a empresária quer elevar a autoestima dos nativos. “Assim como o champanhe só recebe esse nome se for da região de Champagne (na França), a tiquira é uma bebida exclusivamente maranhense. Até porque os portugueses trouxeram a cana de açúcar. E os índios que já faziam a tiquira. Ela é como a Gata Borralheira, que saiu do fundo de quintal para brilhar.”

Margot Stinglwagner, a carioca que incentiva o Comércio Justo no Maranhão

Margot Stinglwagner, a carioca que incentiva o Comércio Justo no Maranhão

Sobre o autor desse texto, especial para Eu Vejo Beleza:

João Fernando é jornalista, prático, eficiente e adora bebida destilada.

Fotos de divulgação