29.09.2015 / Coisas bacanas
Cores da superação

Ela é baixinha, simpática, fala bem, tem sempre um sorriso nos lábios e trabalha. Desde sempre. Ela seria apenas mais uma moradora do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, se não soubesse fazer a diferença. Ela nasceu lá, na Rua Dois. Era manicure e cabeleireira quando o teleférico do Alemão foi criado. Ficou vendo os turistas chegarem e saírem sem levar nenhuma lembrança do local. Nunca gostou da ideia de o turista passear pela favela dando tchauzinho para os moradores. Viu a oportunidade, o marido apoiou, começou a investir no turismo e estudou a questão. Descobriu que era preciso desenvolver uma economia local e, por tabela, uma troca cultural.

As pinturas de Mariluce pelos muros do Complexo: entregando beleza à comunidade

As pinturas de Mariluce pelos muros do Complexo: entregando beleza à comunidade

Foi aí que teve a ideia de pintar pequenos chaveiros de tijolos transparentes, que passou a comprar dos chineses da Saara. Não demorou para convencer os comerciantes a arranjarem tijolo com cor de tijolo e deles fez suas telas. O marido ajudou montando uma barraca para vender os produtos numa das estações do Teleférico e, com o tempo, ela passou a pintar telas, onde o céu é verde, o Teleférico faz parte e o morro colorido virou sucesso entre os estrangeiros.

Ela é Mariluce Mariá de Souza, tem 33 anos e abusa das cores porque acredita que elas representam a alegria de quem mora na favela. Acha também que quem mora fora da favela não entende como é a vida lá dentro. Além do marido, tem o auxílio luxuoso do filho de 16 anos, que fotografa e ajuda com a produção. E lá vai ela, sem esperar pela ação do poder público nem ajuda de empresas. Mariluce Mariá gosta muito de uma área da favela chamada Inferno Verde e sempre ficou muito aflita com o grande número de crianças da região sem nada a fazer. O único campo de futebol virou base da UPP, a biblioteca pública antes de ser inaugurada virou clínica da família. Mas mesmo assim os moradores se viram e acabam fazendo alguns projetos por lá.

Foi aí que Mariluce teve a ideia de fazer também um trabalho social com a garotada, usando brinquedos coletivos. Com parte da renda de seus lucros, compra lanche pra eles nos dias de atividade. De vez em quando, sai com as crianças para o piscinão e faz ação de Natal. Conseguiu parceria com salão de beleza para melhorar a autoestima das meninas e promove festa no Dia das Crianças. Fora que o perfil dela no Facebook — Alemão Morro — é sucesso na favela. Nos finais de semana, amplia suas telas, pintando muros e lajes de quem quer, lá do Inferno Verde, da Praça do Samba e na Rua Dois, para tornar a comunidade tão colorida como seus quadros ou como vê a vida. Mariluce Mariá, um bom exemplo de quem batalha por uma vida melhor. Parabéns!

As crianças colorem os muros da comunidade, incentivadas pelo projeto | Fotos de divulgação

Sobre o autor do texto, especial para o site:

Leda Nagle é cidadã extremamente consciente, dessas que adorariam poder sair corrigindo tudo o que está errado para tornar o mundo mais digno. Defensora de “por favor e “obrigada”, a jornalista e apresentadora também é colecionadora de boas histórias, como a que ela conta aqui, da empreendedora Mariluce Mariá, do Complexo do Alemão.

Leda em encontro com Mariluce, com um de seus trabalhos / Foto de divulgação

Leda em encontro com Mariluce, com um de seus trabalhos / Foto de divulgação