Se as dicas alternativas de Bela Gil de cuidados com o corpo rendem polêmica e muitos memes, elas também atraem muitos adeptos. À frente de um programa de culinária natural no GNT, o ‘Bela cozinha’, com um livro de receitas nas listas dos mais vendidos e com mais de 400 mil seguidores no Facebook, nas redes sociais ela não se limita a falar apenas sobre alimentação, divulgando sugestões naturais de produtos como desodorante e creme dental. A repercussão de seus comentários na internet mostra que a busca por cosméticos naturais e artesanais é um caminho para muitos.

Um estilo de vida mais saudável tem atraído cada vez mais gente no Brasil e no mundo. E a preocupação com a saúde do corpo vai além dos cuidados com a alimentação e exercícios físicos, e inclui um consumo consciente e menos desenfreado. “Felizmente as pessoas estão cada vez mais despertando para a busca pelo modelo sustentável e natural de conviver”, comemora Malu Haddock Lobo, aromaterapeuta à frente da empresa Soma Ayurveda. Ela, que estudou sobre o assunto na Inglaterra e na França, dá aulas desde 2000 e faz produtos como óleos de massagem, sprays e elixires. “Cresce cada vez mais o número de pessoas que buscam cosméticos e aromas naturais. Na verdade, segundo o ayurveda (a milenar medicina indiana), só devemos passar na pele aquilo que podemos ingerir. E as pessoas estão cada vez mais procurando alternativas saudáveis e naturais. Além do efeito benéfico dos óleos sobre o corpo, o agradável aroma dos oes (óleos essenciais) acalma e equilibra mente e as emoçōes”, explica Malu.

A historiadora Palmira Margarida, mestre em medicina popular e utilização de plantas entre as gerações pela Fiocruz e ex-aluna de Malu, desde 2007 cria aromas naturais para a sua marca, Casa Alquímica. Além de fabricar artesanalmente os perfumes, a partir da combinação de plantas e óleos essenciais (inclusive o aroma pessoal do cliente, feito a partir de um atendimento que utiliza a técnica do pêndulo), ela ministra cursos, workshops e palestras, e faz perfumes personalizados para grifes de roupa ou casamentos. “O público de nicho já entende que o perfeitamente igual não significa qualidade”, acredita Palmira. “Deixo claro para o cliente que o lote do perfume de lavanda deste mês pode não ser exatamente igual ao do mês que vem, justamente porque as lavandas são seres vivos, elas não se repetem, crescem em solos diferentes, há meses em que chove mais, em outros menos, e tudo isso interfere no aroma final da planta e, consequentemente, do perfume. Um perfume botânico jamais será igual a um outro. São como nós: especiais, únicos”, deixa claro.

Fernanda Mallmann trabalhava como advogada quando o marido, Luiz Pepper, foi diagnosticado com um câncer, em 2012. Buscando adotar uma vida mais saudável, o que iniciou pela alimentação, ela acabou começando a preparar de cosméticos naturais, como sabonetes e xampus sólidos. Surgia, em 2013, a marca Fefa Pimenta. A ideia, segundo Fernanda, a Fefa, era preparar “fórmulas mais verdes e com finalidade terapêutica, aliando ervas, óleos essenciais, manteigas e óleos vegetais”. O processo, ela conta, foi um resgate das alternativas naturais que usava quando era mais nova. “Sempre gostei de inventar combinações de ingredientes naturais para uso próprio, como máscaras de argila com chás e frutas. Lembro de usar uma esfoliação natural com fubá e mel, e o tônico de água de arroz para acalmar minha pele muito acneica, que minha mãe ensinou, uma nostalgia que remete ao período da adolescência. Foi um reencontro após passar por uma fase consumista: um dia percebi que tinha mais produtos capilares do que eu poderia usar em uma vida inteira”, explica.

E, já que Bela Gil foi citada no início do texto, as três saem em defesa da apresentadora. “Algumas pessoas estão tão embotadas pelo sistema industrial que se chocam com soluçōes simples, saudáveis e naturais”, aposta Malu. “Acho ótimo (que ela fale nesses assuntos), porque vivemos em um consumo massificado, usamos tudo industrializado e, às vezes, no fundo do armário ou no quintal de nossas casas, podemos achar soluções simples que não vão agredir nosso organismo, ao contrário, ele vai agradecer. Haver canais de troca sobre esses conhecimentos simples e eficazes é enriquecedor e de extrema necessidade em uma sociedade tão doente, que sofre efeitos colaterais de produtos industriais e alimentos com excesso de agrotóxico, estabilizantes, corantes etc.”, concorda Palmira. Fefa faz coro e vai além na análise: “Gosto da expressão ‘caminho do meio’. Podemos, sim, encontrar um equilíbrio entre escolhas mais saudáveis e sustentáveis dentro do alcance do nosso bolso, cultura, estilo de vida e da nossa convicção pessoal. Pessoas como a Bela Gil são necessárias, e não porque são proprietárias de uma verdade absoluta sobre cardápios saudáveis ou receitas caseiras, mas sim porque questionam padrões e regras estabelecidas, que repetimos há muito tempo. Mas será que ainda fazem sentido?”.

Sobre a autora do texto, especial para o site
Kamille Viola é jornalista e demorou uma vida inteira para se dar conta de que desde criança sabia o que queria da vida: escrever livros.