Ronaldo Fraga é um estilista fora da curva. No melhor sentido da expressão. Mineiro e orgulhoso do seu Brasil brasileiro, ele não dança conforme a música. Ronaldo compõe suas próprias canções. Na última edição da São Paulo Fashion Week, subverteu os sentidos. Em um ano em que correntes se arrastam, no qual a crise econômica permeia todas as conversas e o conservadorismo avança assustadoramente, o estilista resolveu falar de amor. Sim, de amor. “Recebi mensagens de pessoas que, no final do desfile, levantaram e abraçaram quem estava ao lado, num misto de querer rir e chorar”, conta feliz.
Ele ressalta que todas as suas coleções – sempre com temas especiais, como, só para citar algumas, Guimarães Rosa, Zuzu Angel e Portinari – são embaladas pelo amor. “Na verdade, só oficializei este assunto”, observa, emendando: “O amor é a mola propulsora, mas em tempos plásticos e solitários isso parece perder a importância. Nosso país está sofrendo de falta de amor, há uma banalização da maldade em todas as instâncias”.
O desfile começou com modelos seminus, um tirando a roupa do outro. Em outro momento, ela e ele entraram juntos na passarela, dividindo a mesma roupa e discutindo a questão de gênero. As estampas foram quase todas criadas por Ronaldo em um de seus preciosos cadernos. “Acordava às 5h para desenhar”, recorda. O coração aparece em diversas versões, pulsante, entre flores, partituras musicais e até bananas. A coleção de inverno 2016 também traz pedaços de poemas de Hilda Hist e Fabrício Carpinejar e fragmentos de ‘Um Livro de Amor’, publicação assinada pelas psicólogas Cristiane Mesquita e Rosane Preciosa. Um dos tecidos eleitos é a seda, confeccionada por artesãs do Vale da Seda, no Paraná. “A seda tem tudo a ver com o tema por ser um tecido vivo. E a coleção é feita 100% com matéria-prima nacional”, frisa ele. “Eu me emociono com a indústria brasileira que resiste bravamente”.
Para Ronaldo, só o amor tem força para se equiparar com a morte. “ Diante deles, a diferença social não vale nada. São as duas histórias que nos humanizam. Isso é emocionante”.
Sobre a autora deste texto, especial para Eu Vejo Beleza:
Marcia Disitzer é jornalista, escritora e adora estudar a Moda como comportamento
Fotos Agência Fotosite e Maíra Coelho