“Um dia a gente ainda vai juntar os museus!”.
Por mais de 10 anos, eu e meu broto vivíamos nos prometendo isso, entre uma e outra vez que nos beijamos, ainda sem compromisso. Os tais “museus” eram as nossas coleções particulares de memorabilia beatle: diversas canecas, camisetas, LPs, CDs, DVDs, pôsteres, revistas, livros, curiosidades e raridades em geral, que juntamos pela vida, por pura paixão pelos Beatles. Até que resolvemos acabar com a “bagunça” e namorar de verdade, e logo veio o casório. Isto é: finalmente cumprimos a promessa de juntar os museus. Nosso apartamentinho, na Lapa, era a pura beatlemania ostentação, de encantar os amigos que visitavam e vidravam as atenções nos itens espalhados pelos cômodos, decorando.
“Puxa, por que não ganhar dinheiro com isso?”, começamos a imaginar.
Bingo: surge aí a ideia da Casa Beatles, recém-inaugurada nas montanhas de Visconde de Mauá, na Serra da Mantiqueira, na divisa dos estados Rio e Minas.
Desmontar o apartamento, encaixotar tudo e remontar novamente não foi fácil. Mas nada comparado à decisão de deixar para trás a vida urbana, o ritmo frenético em que estávamos inseridos, os contatos, os agitos e, especialmente, o emprego fixo, até então estável e que nos garantia a certeza do salário no fim do mês.
Entre insetos que não sei o nome e uma neblina gostosa, essa vida aqui no campo é mágica. Acordar ao som dos passarinhos é mais legal que com as buzinas frenéticas da Lapa. Mauá não é tão longe do Rio, daí que a distância não nos afastou drasticamente dos amigos e familiares, desde já entusiasmados para ir conhecer o tal museu dos Beatles.
Deixo de escrever sobre música em um jornal diário, minha grande paixão, para levá-la ao público de uma outra forma. Descobri que cortar grama é melhor que cortar um texto!
Sobre o autor deste texto, especial para o site:
Repórter especialista em música, guitarrista da banda Fuzzcas e grande figura do meio cultural, Leandro Souto Maior resolveu mostrar aqui como pode ser bacana mudar de vida e se reinventar.