23.11.2015 / Histórias Inspiradoras
Adoção, simples como deve ser

Se escolher o pediatra, a escola, as atividades extracurriculares e outras tantas questões cotidianas dos nossos filhos nos colocam diante de verdadeiras encruzilhadas, imagine contar para o seu filho que você é adotada. Pedro ainda era pequeno e eu estava na fase de criar minha teoria, calcada em tudo o que já li na vida de Freud, Jung, Piaget, Wertheimer e Watson, para quando chegasse a hora de lidar com esse tema. Eis que ele, com 5 anos, chega da escola com um dever de casa importante: levar a certidão de nascimento no dia seguinte para desenhar sua árvore genealógica.

Se do lado do papai estava tudo organizado, o meu era caótico: o nome da avó materna era o mesmo que carreguei a vida inteira nos meus documentos – o da mãe que pariu, mas que não era minha mãe de verdade. O avô materno, ok, era meu pai mesmo, mas não era a ele que nos referíamos ao falar para o Pedro de seus avós (tanto materno quanto paterno já morreram), pois falávamos do meu padrasto. Nossa, que confusão! ‘No big deal’ para mim, mas e para o Pedro? Como explicar que o nome da vovó Bia não estava ali e sim o de uma outra pessoa? E por que falar daquele assunto literalmente da noite para o dia?

Odiei a escola! Se eu achava ter escolhido uma escolinha de vanguarda para meu filho passar a primeira infância, estava naquele momento diante de um problema do século passado. O mundo evoluiu, as famílias mudaram e mesmo as escolas “pra frentex” ainda não sabiam como lidar com questões que se tornaram corriqueiras. Por que uma criança que mal sabe ler e escrever precisava levar a certidão de nascimento? Por que não simplesmente desenhar a árvore genealógica e pronto? Por que teorizar o que é simples? Mãe da mãe e do pai é avó. Pai da mãe e do pai é avô. E pronto!

Peguei o Pedro para conversar. E, pouco a pouco, fui construindo com ele a nossa família numa brincadeira lúdica e divertida. E propus de fazermos a mesma brincadeira com a família da mamãe. Quando terminei de narrar meu enredo, Pedro começou a chorar. “Se você é adotada, você passou por um orfanato? Você chorou?” Foi difícil convencê-lo de que nem toda criança adotada sofre e que, no meu caso, tive sorte por ter sido acolhida pela melhor mãe do mundo.

Outro dia, anos depois, flagramos um papo dele com um colega em que o amigo contava que a mãe havia sido adotada. E o Pedro (hoje com 10 anos) dividiu sua história: “A minha também”. O colega seguiu contando que não tinha avó enquanto o Pedro dizia ter duas avós, mas que os avôs já tinham morrido. Há algumas semanas, tivemos que desenhar a árvore genealógica para o curso de inglês. “Mãe, posso então colocar que você é filha da vovó Bia e do vovô Tony?”. “Claro, filho”. Simples, como deve ser.

family tree mynewyorkcitylawyer

Sobre a autora deste texto, especial para o Eu Vejo Beleza:

Aline Gomes é jornalista, mãe do Pedro, direta e não gosta de complicar as coisas.