03.11.2015 / Histórias Inspiradoras
Honestidade gera honestidade

Eu estava correndo. Antes e durante.

Segunda-feira, 8h10 da manhã, terminei meu treino na Lagoa. Entrei no carro, encurralado por outros dois (esse fato faz parte da minha defesa para o que virá a seguir) e, ao virar a direção para a esquerda, ouvi um barulho que não deixava dúvidas: bati. Alguns segundos de hesitação precederam a vistoria para todos os lados em busca de testemunhas. Eu sou daquelas mulheres que (auto) carregam o título de “exceção ao volante” – por isso, era fundamental que a cena estivesse o mais livre possível de testemunhas. O tamanho da humilhação nessa hora pode ser fatal.

Ao constatar que (aparentemente) eu podia sair ou voltar pra cena do crime sem flagrante, retomei a razão. Busquei um pedaço de papel e uma caneta dentro do carro e deixei um bilhete no para-brisa da vítima: “Espero não estragar o seu dia. Bati no seu carro, mas estou pronta pra resolver o nosso problema. Por favor, me ligue (…)”. A ligação só aconteceu alguns dias depois de eu achar que alguém tinha tirado o bilhete do carro, ou que o dono tinha entendido como irrelevante o prejuízo. O telefonema já começou assim: “Bom dia, Clarisse. Meu nome é Hugo, você não me conhece. Mas eu tenho certeza de que já somos amigos”. Pronto. Dali em diante, fora algumas palavras de ordem prática, tudo que se seguiu foram gentilezas.

Aqui, na sua cabeça e na minha, o óbvio que nosso velho e bom profeta dos subúrbios cariocas cansou de pregar: “Gentileza gera gentileza”. Ao levar o carro na oficina, o mecânico Almir me passa o orçamento e ao ouvir o motivo daquele carro estar ali, decreta: “Caramba…. Trabalho com isso há anos e vou te dizer: é uma pessoa em 100 que age assim. Você está de parabéns! Vou te dar um bom desconto! Quem sabe você contando isso pros outros não serve de exemplo e um monte de gente vem consertar aqui também? Já pensou? Todo mundo vai se dar bem! Eu e eles!”.

Quase matemático, não é mesmo? Nessa história, todo mundo se deu bem. Afinal de contas, como diria nosso amigo Jorge Ben Jor: “Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem…”.

Sobre a autora desse texto, especial para Eu Vejo Beleza:

Clarisse Sette Troisgros é empreendedora social, honesta e nos deu o prazer de contar essa história.