29.03.2016 / Histórias Inspiradoras
O sábio das madeiras de Alenquer

Uma história de família, um ciclo de arte e persistência que une três gerações. Assim pode ser definida a trajetória de Ricardo TS, o artesão de lindas biojoias de madeira que conquistam a cada dia mais fãs no Brasil e no mundo. Trabalhando neste ofício há 30 anos, o criador da grife Sophos é de Alenquer – cidade “a três dias de navio” de Belém do Pará – e resolveu buscar seu sonho no Rio há dois anos, para dar um futuro melhor à filha, Sofia, de 9.

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Ricardo TS e a filha, Sofia: biojoias com madeiras naturais da Amazônia / Foto Ricardo Gama

Voar alto foi sonho acalentado desde o berço. Sua mãe, artesã, fazia redes de dormir, bonecas, arranjos de flores e frutas… sempre sob o olhar atento de Ricardo, um mestre da marchetaria (o delicado trabalho de montar folhas de madeira como quebra-cabeça, formando belos desenhos). O artista conta que a marchetaria, muito difundida na Itália, é um trabalho também típico de Belém, onde vivem grandes marcheteiros, região riquíssima em diversidade de madeiras.

Ricardo foi presidente da associação de artesãos por seis anos e ao sair criou cooperativa com 130 profissionais em shoppings de Belém. Chorou ao ver destruição de mogno em sua terra e hoje trabalha com 40 tipos de madeiras naturais da Amazônia certificadas pelo Ibama. “Sem isso lá fora nem compram”, explica ele, que exporta suas joias de madeira para loja em Colônia, na Alemanha, para a Austrália e negocia com gente interessada na França. O pequeno produtor seduziu uma legião de fãs em eventos como Babilônia e Feira do Rio Antigo, na Cidade Maravilhosa, e Retoque, em Niterói, onde vive. “O carioca aceitou bem o artesanal. Foi muito bom ser reconhecido na cidade que é a capital da moda no Brasil”, sorri o artesão, de 48 anos.

“Quando saímos do Pará, trouxemos 14 caixas na mudança, mas foquei nas biojoias, já sabia do que iria viver, e 11 caixas eram só de material”, lembra. Acompanhando atentamente a entrevista do pai ao Eu Vejo Beleza, Sofia pede a ele que conte a melhor parte da história: a sobrevivência de uma planta da região Cidade dos Deuses, durante 48 dias presa numa caixa de mudança (a família demorou 45 dias para encontrar um lugar para morar). “Ah, sim”, ele pausa. “A Cidade dos Deuses é um lugar magnífico, que demonstra que a Floresta Amazônica foi oceânica. E tem essa planta perene. Quando abri a caixa em que estava a muda, depois de 48 dias no escuro, sem água e ar, fiquei impressionado ao ver que uns brotos se esticavam. A planta estava viva. Atribuímos isso a um bom sinal. Essa planta representa toda a resistência até aqui”, emociona-se. Hoje a planta tem quatro “filhotinhos” que serão doados ao Embrapa para estudos.

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Colares e brincos de marchetaria da Sophos fizeram a cabeça de quem gosta de moda e admira artesanato

Fotos das biojoias: Sophos