26.10.2015 / Histórias Inspiradoras
Rebeldia, utopia e inocência para curar a alma

Um belo dia resolvi mudar.
Não, não foi bem assim que aconteceu. Não acordei num belo dia da minha vida fazendo tudo que eu realmente queria fazer feito a Rita Lee. Na verdade, foi a minha alma que se rebelou e sentenciou: “Estou me libertando desta vida vulgar que eu levo junto a você!”, e disse assim mesmo “gerundiando”. Analisando a linha do tempo da minha vida, percebo como fui resistente aos diversos apelos a praticar algum método de conexão gentil e amoroso com a minha alma, como estabeleço hoje, através do silêncio e da autoescuta.

Paula Maia  acha que a maioria de nós não reivindica nem 10% do que é merecedor

Paula Maia acha que a maioria de nós não reivindica nem 10% do que é merecedor

Sinais da interferência e ruídos na conexão com a minha divindade: alimentação que não expressava meus valores e como não me nutria, eu estava sempre com fome (ansiedade); hábitos de consumo que não representavam minhas ideologias; êxtase que vinha de substâncias como álcool, que no dia seguinte fazia com que o meu fígado desequilibrado me (des)governasse entre a raiva ou o medo; uma profissão e um trabalho dignos que eu desempenhava bem e era querida pelos colegas e clientes, mas que soava falso comigo mesma; em mini-guerras internas com as pessoas que eu amava (espelhamentos); um nó no peito do lado esquerdo (que eu alimentava a ideia de que era o início de um câncer); pulando de uma novidade sem sentido para outra, qualquer coisa que alimentasse as vontades momentâneas do ego (ilusão); e algumas dúvidas me rondavam: o que é o amor genuíno? Eu já amei de verdade? O que faz sentido e é essencial pra mim? Estou no caminho para me tornar a pessoa que eu gostaria de ser?

Aparentemente eu era uma pessoa normal (registre essa palavra normal!): bonita, inteligente, emprego, amigos, viagens, livros, família querida, o que ainda poderia querer mais da vida? Muito mais. É possível querer muito mais dessa vida. A prosperidade é infinita! E a maioria de nós não reivindica nem 10% do que é merecedor. Seguimos num transe coletivo, o qual foi chamado pelo Professor Hermogenes (um ícone no universo da yoga) de Normose, que é uma doença social na qual o indivíduo quer ser normal e ajustado se comparando à massa. Entre os sintomas desta doença estão a sensação de separação da nossa Alma, distanciamento da nossa Missão Sagrada de vida, insatisfação crônica, apatia e ilusão. Junte a esse fator a programação mental massiva desta indústria caduca que o tempo todo quer (e precisa para sua sobrevivência) nos vender objetos, hábitos e entretenimentos vazios e sem sentido.

A mudança de estilo de vida ainda está acontecendo, assim ainda no gerúndio. E não consigo registrar exatamente um único evento que pudesse ser considerado o ponto de partida ou um marco para este processo de autotransformação, mas consigo sim apontar um indicativo: aumentava o meu interesse em realizar atividades simples e de conexão com a natureza. Começei a trocar saídas noturnas por trilhas urbanas ou momentos de prazer e conexão sozinha em casa, viagens com trilhas, piqueniques em parques e praças ao invés de bares, praia e cachoeira no lugar de qualquer lugar com ar condicionado. Em todos esses lugares me conectava às pessoas com intenções parecidas ou me reconectava a amigos que também estavam na mesma busca. Estar a céu aberto virou sinônimo de satisfação, prazer, luxo. Em pouco tempo me conectei a grupos de pessoas que buscavam o mesmo que eu em encontros de astrologia, de reiki, de práticas xamânicas (rodas de canto, fogueira, vivências), de desenvolvimento pessoal, e todos esses grupos têm em comum justamente este contato profundo com a natureza e o sagrado.

O desafio na mudança era permanecer autêntica e verdadeira primeiramente comigo mesma e com as minhas escolhas, contudo integrar a nova Paula, em processo de renascimento, ao convívio com os amigos antigos e a família sem rupturas ou abalos estruturais nas relações, ou pelo menos o mínimo possível. Nem sempre eu consegui e alguns relacionamentos foram sim impactados, mas com demonstrações de que o processo era pessoal e gestos de amor, os relacionamentos mais significativos se adaptaram e se mantiveram fortes. Deixar de ingerir bebida alcoólica e comer carne numa sociedade na qual bebida e comida definem os seus círculos sociais é bem complexo e em alguns casos representa momentos de solidão, inadequação e de não pertencimento. Mas reforço: com demonstrações e gestos amorosos há espaço para manter as relações, e até transformá-las. Também é importante dizer que muda a percepção sobre o entorno e que a transformação também está acontecendo no plano coletivo. Basta serenidade para percebê-la.

O emprego, CLT em ambiente corporativo com jornada de 8 horas semanais, caiu em dois anos. Eu poderia permanecer desempenhando a atividade a qual me dedicava há 18 anos, na área de Tecnologia da Informação, usando a mesma estratégia de integração da nova Paula ao ambiente, como já vinha fazendo e obtendo êxito, mas seria um desperdício. Percebi que precisava de um pouco mais de disponibilidade e liberdade para lapidar o meu Ser. Era preciso então que eu me desenvolvesse e pudesse desempenhar uma atividade profissional em que fosse valorizada financeiramente, investindo meu tempo, esforços e valores alinhados a minha recém-incorporada filosofia de vida. E foi assim que escolhi, ou melhor, me descobri como terapeuta holística. Vivendo e pensando o Reiki e o alinhamento energético em todas as horas e situações da minha vida. A serviço (Ser em estado de Viço) do amor e da compaixão por todos os seres e inclusive por mim mesma.

Além do amor e da compaixão por si mesmo, me sinto apta a compartilhar algumas capacidades que julgo necessárias para quem deseja (re)iniciar esta jornada de autotransformação, rumo a reforma íntima e em busca da cura da alma: rebeldia – a coragem necessária para iniciar (e reiniciar quantas vezes for necessário) o caminho de transformação com entrega; utopia – o encantamento necessário para confiar e ter fé no caminho, acreditando na infinitude e abundância de bençãos do universo; e inocência – a capacidade de confrontar com ternura as suas sombras e superar as noites escuras da alma, com a intenção de a partir delas renascer após o mergulho em suas próprias profundezas. Aos amigos caminhantes, desejo ainda um ingrediente fundamental para cair nessa jornada divertidamente: a alegria! Leve doses extras de alegria sempre e fica muita mais leve desfrutar o caminho! Avante!

Por 18 anos trabalhando o raciocínio lógico numa função burocrática, Paula sentiu necessidade de se reconectar com a natureza

Por 18 anos trabalhando o raciocínio lógico numa função burocrática, Paula sentiu necessidade de se reconectar com a natureza

Sobre a autora deste texto, especial para o Eu Vejo Beleza:
Graduada em Análise de Sistemas, Paula Maia trocou o emprego como Consultora em Gerenciamento de Projetos para a Petrobras pela terapia holística
Fotos Carla Vieira (de branco) e Marcus Vinicius (cachoeira)