15.02.2016 / Histórias Inspiradoras
‘A vida dá a mão a quem está aberto a ganhar’

Aos 25 anos, sozinha em uma consulta médica de rotina, recebi o diagnóstico de um câncer raro, grave e que poderia me levar a óbito em pouco tempo. Sobreviver para depois reaprender a viver me trouxe o que há de mais precioso: a descoberta e o reconhecimento do amor.

Carregava uma bagagem pesada de obrigações e responsabilidades com muita gente, além das minhas. A necessidade de quem realmente só podia contar consigo me fez desrespeitar os limites do corpo, seus sinais, deixando muitas vezes de descansar, divertir e ir a médicos para atender às solicitações sem fim de superiores. Minha carreira era bem-sucedida, em ascensão e expansão, por conta também dos inúmeros cursos à noite e em infindáveis finais de semana. Na mesma época, estava em um relacionamento abusivo, sem apoio emocional, sendo sugada e infeliz. Tenho certeza de que a raiva oculta pelo meu silêncio desencadeou o processo que culminou na doença.

O processo de autodescoberta foi fascinante durante o ficar boa e me livrar de todo o mal. Somos capazes de proezas e superações incríveis, mas precisamos ouvir a nossa voz, acreditar nela e deixar o coração aberto para a voz divina. Sempre acreditei em Deus, mas na época não. Encarar os meus demônios reais e vencer uma doença como o câncer me fez trocar de roupas psicológicas e emocionais inúmeras vezes. Hoje encaro com naturalidade ser mutante. Rompi com quem e com aquilo que me trazia enfermidades, sugava energias. Decidi viver o bem para o meu bem. Optei pela leveza, pela beleza, pelo gosto do vento que nos acaricia no rosto, o quanto isso é precioso mesmo em uma rua movimentada. As epifanias povoam meu cotidiano, o encantamento, o valor da simplicidade e das miudezas que aquecem o coração. Mudei de amigos, casas, roupas, aptidões. As prioridades nos afastam e aproximam; somos energia em movimento.

Descobri que a raiz do meu problema era a falta de um amor profundo pelo meu Eu. Comecei a me namorar, a me dar a chance neste relacionamento em aulas de dança do ventre, de terapias holísticas, de sair com pessoas diferentes, viajar, descobrir o mundo dentro e fora de mim, conhecer a família distante e, sobretudo, perdoar a mim e a quem me fez triste. Com o coração aberto, plena de quem sou em potência, estive pronta para um relacionamento verdadeiro. Há 10 anos, sou casada com alguém que me ama incondicionalmente e por quem devoto minha vida.

Quando a gente supera uma doença, precisa substituir no coração o mal pelo vazio que fica. A mágoa da falta de apoio de quem você mais esperava pela energia da surpresa da solidariedade sem interesse de quem nem sabia que era amigo. A vida dá a mão a quem está aberto a ganhar de maneira indistinta, sem orgulho, preconceito. A lição do amor verdadeiro é doar e receber como se cada segundo fosse o mais importante, hoje e para sempre. Não somos apenas uma poeira cósmica cheia de carbono. Hoje eu sei que a vida foi criada para valer a pena e a bússola que trazemos é a voz que ecoa em nosso peito esquerdo.

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Renata optou pela leveza depois de se curar de um câncer raro e rompeu com quem lhe trazia enfermidade

Sobre a autora deste texto, especial para Eu Vejo Beleza:

Renata Frade é empreendedora de comunicação e tecnologia, faz o blog Pessoa Física e vê poesia até em fumaça.