28.01.2016 / Histórias Inspiradoras
O casamento da menina rosa no Boitatá

Aaaaah, o Carnaval… Aquele período mágico do ano que todos esperam ansiosamente… Tenho muitas histórias. Aliás, acho que minha vida pode ser desenhada em volta do Carnaval. Na barriga da minha mãe, lá estava eu na recém-inaugurada Marquês de Sapucaí, ela era então porta-bandeira do Salgueiro e desfilava grávida escondida de todos, porque na época isso era proibido. Ganhei nesse dia meu primeiro (e único) Estandarte de Ouro, sem nem saber do que se tratava.

Dois anos depois, eu pisava na Avenida pulando e cantando o samba ‘Raízes’, que começava com a frase: “A Vila Isabel incorporada de Maíra…” Pois é, eu não tinha nem 2 anos e já tinha toda uma Escola de Samba cantando o meu nome, presente lindo do meu pai coruja que escreveu um enredo com a história do meu nome. Minha vida mal começava e lá estava eu tirando onda no Carnaval.

E a cada ano era uma fantasia diferente. Fui passista da Herdeiros da Vila, saí no carro alegórico na Aprendizes do Salgueiro, fui porta-bandeira mirim do Cubango, desfilava de camisa em todas as escolas em que eu conhecia alguém, além de todo ano sair na Ala da Família da Vila Isabel. Desfilar na Avenida sempre foi uma emoção muito grande até eu descobrir os blocos de rua no final da adolescência.

Então, me apaixonei pela bagunça. Encontrei um Carnaval sem regras e sem competição, onde você coloca a fantasia que quiser e se transforma. Sempre gostei muito de me transformar, já fui Madonna, Planta, Noiva Cadáver, Velho Tarado, Meu Marido me Bateu, Japonesa, Frágil, Cigana… enfim, minhas amigas sempre me falavam que eu era meio hardcore nas fantasias, gosto de incorporar os personagens e ficar curtindo aquela onda de ser outra pessoa por um dia. Gosto de curtir o Carnaval e nunca pensava em ficar com alguém, sair pra pegação, sempre saía meio esculachada mesmo, sem a menor preocupação de beleza estética. Claro que acabava ficando com várias pessoas, mas não sei nem como elas tinham coragem… (risos…)

No ano de 2014, resolvi ir de Rosa para o pré-carnaval do Boi Tolo. Chegando na Praça XV, estava acontecendo um casamento na Igreja de São José. Estávamos chegando, e a noiva saindo linda do carro. Eu, que já estava mais pra lá do que pra cá, resolvi segui-la! Sim, eu entrei na igreja atrás da noiva toda pintada de rosa. O segurança riu e me tirou de lá, claro, mas eu saí a contragosto dizendo que ele estava com preconceito só porque eu era Rosa.

Lá pelas tantas, no meio do bloco, vejo um barbudo com óculos escuros com lente somente de um lado, tocando surdo, e pensei: acho que ele é cego de um olho, mas até que é bonitinho. Dez segundos depois, estávamos nos beijando. Dez minutos depois, cada um tinha seguido seu caminho tortuoso e bêbado para outros cantos perdidos do Carnaval sem trocar mais que duas palavras, nomes ou telefones.

Uma semana depois do Carnaval, numa parada despretensiosa para se alimentar antes de chegar em casa após uma noite agitada, nos reencontramos às 4h da manhã na tapioca da Glória. Dez segundos depois, nos beijamos, uma semana depois, fomos ao cinema, dois meses depois, começamos a namorar e cinco meses depois, ele me pediu em casamento.

Sim, eu havia encontrado o amor da minha vida no Carnaval, completamente bêbada e pintada de Rosa. Fizemos cinco casamentos, nos mudamos, casamos no civil, na cachoeira, fizemos cerimônia oficial e nos casamos no Carnaval, no palco do Boitatá! Decidimos agradecer aos Deuses do Carnaval, fazendo uma cerimônia muito divertida. Com a ajuda dos amigos do bloco. Ele foi de noiva e eu fui de noivo, uma amiga foi de rabino, a outra foi de Papa e a outra, de mãe de santo. Jogamos o buquê do palco e fomos até entrevistados ao vivo na TV, completamente transtornados!

Realmente, tenho muito a agradecer a essa festa. Fica aqui o meu beijo a todos os foliões que se encontraram, se perderam e foram muitos felizes para sempre no Carnaval.

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Maíra trocou de papel com o marido em seu casamento, no palco do Boitatá: ela foi de noivo

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No ano em que foi de rosa e beijou pela primeira vez o amor de sua vida: só alegria

Maíra Freitas - foto Cafí

Maíra Freitas é supercool: menos no Carnaval, quando ama ser uma personagem por dia

Sobre a autora deste texto, especial para Eu Vejo Beleza:

Maíra Freitas é cantora, moderna, filha do Martinho da Vila e lançou o ótimo disco ‘Piano e Batucada’, com fina mistura de ritmos.

Fotos de divulgação / Ramon Moreira, arquivo pessoal e Cafí