18.06.2015 / Crônicas
A paz que eu preciso

O que te faz bem? A sensação de paz não pode ser produzida, nem inventada, muito menos encenada. Na vida, a gente sabe o que realmente nos dá paz de espírito. Sem paz de espírito talvez não se tenha nem saúde. Sem saúde não se vive. Às vezes, as pessoas buscam a paz incessantemente, fazendo dessa busca uma guerra. Eu já fiz isso, você, ele, nós todos.

Em geral, não dá muito certo. É igual a tentar esquecer um grande amor, e isso todo mundo já sabe: quanto mais se pensa na pessoa, mais viva ela fica em sua memória. Como quando alguém morre: você só pensa no lado bom. Até as coisas ruins daquela pessoa você enxerga com os bons olhos do romantismo sofrido, nostálgico, profundo.

Como o entardecer, que oprime e é belo. Como tardes de domingo, que saem da sensação de frescor do sábado para o sufocamento de encarar uma nova semana, uma segunda-feira pela frente, cheia de planos e metas que você não conseguiu cumprir na semana passada. Nada que uma aurora não cure, um amanhecer, um dia de sol. Melhor até que os dias brancos, que dão vazio. Se estão neutros, então, sem sol, nem chuva, nem a sensação dúbia do mormaço, dá até um bem-estar vazio.

Muita gente passa os dias de folga na rua emendando um programa no outro, sem aproveitar nenhum. Uma pessoa que me é muito querida passava os fins de semana em casa. Eu falava, me achando muito esperta: “Ei, olha a vida lá fora! Você vai passar o dia aí?”. E ela me respondia com a expressão mais segura do mundo, rosto lisinho, sem preocupações: “Mas eu adoro ficar em casa!”.

Com o tempo e o amadurecimento, eu fui vendo que, claro, nada como a paz da casa da gente. Ter um lar, o nosso porto seguro, sem que esse porto seguro seja em outra pessoa, que sempre pode partir e te deixar à deriva.

Ficar quietinho no seu canto, fazer o sol entrar em casa, mesmo que lá fora o tempo não esteja tão bom assim. A casa da gente deve ser a nossa morada. Parece redundante? A casa da gente deve ter a nossa cara, os nossos enfeites, a nossa vida dentro. Não me refiro às coisas materiais, mas aos sentimentos que dela fazem parte, tudo que ela já testemunhou, das pulgas no taco ao cheirinho de limpeza, das brigas às pazes, as cenas de dor e de festa.

Se você não consegue ficar em paz em casa, reveja seus conceitos, fale com quem mora com você. Se mora sozinho, mude aquele móvel de lugar, brinque com luzes coloridas nas luminárias, arrume seus armários, crie um ambiente acolhedor. Parece balela? Então tente. Só para começar a semana.