19.06.2015 / Crônicas
A saúde agradece

Fiquei doente nos últimos dez dias, com meu estado piorando na última semana, necessitando de licença médica, muitos cuidados e repouso, e pude notar: ninguém mais respeita os doentes. Além de ser uma consequência de como o mundo está, hoje, é também culpa da tecnologia. Você é facilmente “encontrável” por e-mail, Gtalk, Facebook, telefone celular e fixo, e-mail do trabalho, etc. Em alguns momentos, a mesma pessoa se manifestava por quatro vias: torpedo, bate-papo, e-mail e telefonema para ver se você tinha recebido tudo aquilo que ela mandou antes por texto. Cheguei a ter delírios: imaginei essas pessoas se materializando na minha janela em forma de sinal de fumaça.

Se eu fosse menos desligada, até me eximiria da minha parcela de culpa, mas, preocupada, acabei por me prejudicar boa parte do tempo tentando ser atenciosa.

Moro entre uma creche e um hospital, e entre eles há um colégio. E um sinal que leva poucos segundos. Um dia, me dediquei a entender por que estavam buzinando tanto. Perdi uns 15 minutos na janela com um som ensurdecedor, até que não ouvi mais nada, só marcando o tempo dos sinais abertos e fechados para entender o que leva as pessoas a virar um bando de animais mal-educados buzinando sem parar. Entendi: um sinal abria, mas durava segundos; os motoristas passavam para defender o seu até entupir o cruzamento; o outro sinal abria, mas os carros não conseguiam andar; quando começava a fluir, o cronômetro informava que faltavam sete segundos; aí começavam a buzinar histéricos, pois sabiam que não iam conseguir atravessar.

Um guarda da CET-Rio, impedindo o fechamento do cruzamento, resolveria. Mas… uma van escolar morreu e uma louca meteu a mão na buzina até a van andar, fechada no seu carrão de rica no ar-condicionado. Eu fiquei estarrecida. “Ô, cretina, você é a dona da rua?”, pensei. E fechei a janela indignada: “Caramba! Mas não respeitam nem o hospital?”

Daí resolvi fazer uma lista para caso um dia eu precise ser internada (toc, toc, toc). Acho que deveria ser afixada em cada porta de quarto de hospital, distribuída em panfletos em cada esquina. 1- Respeite os enfermos; 2- O doente precisa de silêncio. 3- Fale baixo; 4- Não ligue na TV aberta; 5- De preferência, bote uma música calma e baixa; 6- Apareça, mas não de surpresa; 7- Não marque encontro com ninguém no meu leito; 8- Não fique falando de doenças ainda piores, fazendo comparações; 9- Fale coisas positivas e seja carinhoso;10- Saiba a hora de ficar e de ir embora. Se não perceber, pergunte.