24.06.2015 / Crônicas
Atividade

Minha caneleira está lá sentadinha na poltrona. Linda, eu olho para ela e ela para mim desde o Natal de 2009. Resoluta, fui atrás dela como quem vai atrás de um grande amor. Achei o modelo ideal, não muito pesada, tecido bonito, azul, para não ficar tão mulherzinha. Falei para o meu amigo Mario, todo fortão: “Comprei a caneleira. Você vai ver. Exercício todo dia, pernão”. Ele riu.

Ganhei livros, comprei outros, fui acumulando um monte de coisas na poltrona, até que quase dois anos depois, impulsionada por um TOC de ordem, resolvi arrumar a tal poltrona e retirá-la do quarto. Uma tarde dedicada a isso e, no fundo da bagunça, na dobra entre o assento e o encosto, lá estava ela, a caneleira, olhando pra mim, carente. Belisquei minha coxa e pensei: “É… ainda dá”.

Conhecida por ser campeã de queimado no colégio, viro motivo de piada a cada vez que eu conto algum conto do vigário como este da compra da caneleira. Adoro comer e beber e para mim, no viver, estão bucólicos passeios de bicicleta, com pausas para água de coco, chopinho ou fotos da natureza. Enfim, sou uma tremenda sedentária, ciclista de fim de semana, promessa de ginasta olímpica e nada disso.

Na verdade, mesmo, ganhei o festival de poesia e esse foi um dos meus maiores feitos como representante de turma. No máximo, foi conseguir que a minha galera, que era mais das letras, formasse um time para cada modalidade na olimpíada estudantil, mesmo que para o time ficar completo eu, que tenho 1,52cm, tivesse que entrar para o basquete.

Fato é que quando eu decido sair por aí de bike numa segunda-feira, ou terça, ou quarta… vejo o sol bem alto, suas luzes modificando as cores dos carros, das folhas, do espelho d’água da Lagoa, das ondas do mar e isso me faz um bem incrível. Fora que sempre cruzo com três ou quatro pessoas e fico imaginando por que o destino quis que eu as encontrasse.

Não vou falar aqui do bem da atividade física, porque nem posso, mas das vezes em que a gente está sem coragem dentro de casa e sai para ver a vida. Se ela apresenta problemas que se impõem independentemente da nossa vontade, o mínimo que podemos fazer é contar com a gente mesmo para extrair um pouco de paz do que o mundo nos dá. Tem barulho, tem gente chata, tem cartazes de políticos corruptos no nosso caminho… um monte de lixo. Mas tem também alguma coisa lá dentro que nos faz vibrar. Um sorriso que você abre para um estranho.