24.06.2015 / Crônicas
Aumenta o som

Era como uma criancinha frenética, uma adolescente se arrumando para sair, a boca tremendo de nervosa, dentes batendo, frio na espinha mesmo no calor do verão. Fazia dancinhas no espelho horas e acabava sempre com coreografias de jazz que nunca aprendeu, rodando os braços em círculos e chutando o ar. Mandava uma amiga fazer as vezes de `pastilha`, aquilo que se botava antes das lâmpadas para fazer a luz piscar sem parar, feito discoteca.

Deixava-se contagiar pela música mesmo. Se empolgava com tudo até a euphoria. Tanto é que tinha mania de inventar grafia para as palavras: escrevia euforia com ph, gostava de dar uso para o W e o Y e também tinha um pouco de pena do Z. Daniella com dois “l” salvava qualquer ambiente com a mesma pergunta: “Vamos dançar?”

Todo mundo devia experimentar. Quem está há anos fingindo que não liga para a pista de dança e tem uma história inesquecível para contar de uma festa levanta a mão. De quando fez a dança da vassoura, da cadeira – e roubou para se sentar – , foi ao seu primeiro baile, viu a pista ferver com pessoas certas, na hora certa, com o DJ certo, num cenário de sonho, uma música empolgante, onde tudo se integrou. Fez amizade, abraçou, pensou: “Esse cara é legal!”. Luzes coloridas vindo em sua direcão em diversos formatos, de bolinha a raio laser, com fumaça de gelo seco ou à luz de velas… agora abraça, como diz o funk, “abraça os nossos amigos”. E não pare mais.

Coloque-se no topo do mundo, num país distante, e vá abrindo os círculos. Só que ao contrário. Lá do alto, imagine-se no seu trabalho, dentro de uma sala, dentro de um predio, dentro de um bairro, dentro de uma cidade, dentro de um estado, dentro de um país, dentro de um continente, o mar em volta, e você lá no topo, em cima da pedra. Agora veja como o mundo é grande. Assim é a pista de dança, do particular para o geral, e você lá em cima dos seus sonhos, para ser o que quiser. Dissolvendo os problemas.

Veja as pistas de casamento. Comoventes. Os noivos, os amigos em volta, os amigos distantes, os vizinhos, a convidada não muito íntima, o avô, a avó. Felizes em dancinhas que surgem de suas ferrugens… dancinhas de casamento. Mas rodopiam sem dó, cabecas girando, braços desconcertados, mãos apontando para o alto, a vida passando como filme, o peso saindo pelos ombros, sorrisos, olhares. Aula de aérobica para quem odeia exercício.

Há beleza e cumplicidade numa roda, entre amigos, a dois. Na dúvida, escolha a sua música preferida e aperte o play.