26.09.2015 / Crônicas
Cenas bonitas

Voltando do almoço, os dois se perderam na mesma imagem: no meio-fio, estavam um senhor e uma moça. Ele, morador de rua, bem sujo, roupas escuras, aparência de abandono. Ela arrumada, cabelos longos, entusiasmada. Conversava com ele de igual para igual. Seria uma assistente social? Pensaram que sim, e se não fosse seria tão belo quanto, pois dedicava-se a ouvi-lo e a dar conselhos. Por doação. Parecia se importar com o que dizia.

Andando pelas ruas da Lapa de dia, olhamos a Catedral Metropolitana ao fundo, entre as ruas apertadas. Bonita. Turística. Como quando, na Itália, saímos de uma viela e enxergamos a deslumbrante Fontana di Trevi. A cena fez meu amigo lembrar da seguinte história: ensinou as filhas, desde cedo, a admirarem a natureza do Rio. “O Egito tem suas pirâmides. Nós temos uma pirâmide natural, o Pão de Açúcar”.

Com uma doença degenerativa, não era mais possível para a mãe tomar um banho demorado. A filha conseguiu uma boa cadeira que cabia no chuveiro e acomodou a senhora. Temperou a água, morna e abundante. Jorrava sobre a mãe, como se estivesse numa energizante cachoeira. A mãe fechou os olhos e deixou a cabeça cair para trás, sentindo a água cobrir seu rosto devagar. Como se recuperasse a vida naquele instante. Não dá para esquecer.

“Hoje vamos fazer um caminho diferente. Em vez de irmos por aqui, vamos por ali”. Ele não entendeu muito bem, mas me deu a mãozinha. O céu estava totalmente azul. O sol, ameno. Eu o segurei no colo e atravessamos a rua. Ao chegarmos seguros do outro lado, ele me olhou e eu falei: “Mamãe ainda não ganhou beijo hoje”. Quando ele veio beijar a minha bochecha, a brisa constante se acentuou. O vento jogou meus cabelos na frente do rosto, atrapalhando. Ele os tirou com os dedinhos bem leves e deu um beijinho. Do alto de seus 2 anos, olhou para a frente, todo orgulhoso do que fez.

Voltando para casa com as crianças, uma lua linda, a moça de brilhantes olhos claros foi surpreendida com uma pergunta pelo filho, menino de 7 anos, nanico de pele dourada, alegria estampada no rosto: “Mãe, quando o americano pisou na lua, era a inteira ou essa de sorriso?”.

Qual foi a última cena bonita que você viu?