18.06.2015 / Crônicas
Da simplicidade do bem

Sem maldade e com expectativa. Assim aquele olhar lhe sorriu, mudando a forma de encarar o começo da caminhada, fazendo com que se percebesse tão equivocadamente neutra diante da vida.

No caminho batido de terra clara, a visão a seguir foram flores amarelas, emolduradas por árvores em muitos tons de verde, com folhas de várias texturas e aromas. O dia não estava nem claro nem escuro, e o colorido no chão se mesclou em sensação com o olhar puro que cruzou seu horizonte.

Não era nada, nunca mais se lembrariam do rosto um do outro. Não fosse, para a moça, o que aqueles olhos felizes gritaram. É como se dissessem: há bondade e beleza, eu vi. Talvez ela não tenha podido retribuir. De passagem, dedicou a fração de segundo a enxergar, e seus próprios olhos nada falaram, nada passaram adiante.

Até que ponto da vida o aprendizado não julga? Por que esperar o pior, acreditando já saber o bastante? Como recuperar aquela ingenuidade que faz com que se aprenda o passo seguinte? Como teríamos coragem de aprender a andar de bicicleta se apenas esperássemos o tombo e não tivéssemos a expectativa de sair por aí pedalando em liberdade? Parece-me que o pessimismo não nos leva muito além.

É muito diferente de não esperar nada. A expectativa sobre o que vem de bom a seguir, “agora que está tão legal”, é que move os olhos curiosos da busca.
Depois dessa curva é o fim? E se for, que divertido até aqui. Para ele que terminou o passeio, era o final de um momento; para ela, que começava, era um mundo perdido que redescobria: da pureza menosprezada em nome do saber.

Perto do lago, uma criança com uniforme de colégio gritou desafinada, de tão animada: “Vem ver um peixe! Olha o peixe! O peixe!” Os outros amiguinhos correram para ver. “É só um peixe”, ela pensou, mas se lembrou do olhar do outro em sua chegada. Ao virar-se para o lado, viu uns miquinhos. Parou, também queria chamar alguém para ver. Mas se contentou em observar. Quando se deu conta, as coisas ruins tinham ido embora com os passos percorridos.

Mas era hora de voltar à vida.

Agora sob outra visão.