18.06.2015 / Crônicas
Doença incurável

Não sei se é porque tive uma mãe linda, quando jovem muito parecida com a atriz Audrey Hepburn, discreta, que só abria a boca para falar a frase perfeita, e que sofreu nos últimos anos de vida com uma doença degenerativa,que eu tenho a noção de que tudo pode acontecer com qualquer um a qualquer momento. Sempre penso no dia de amanhã, em não fazer com os outros o que não gosto que façam comigo e sei que não adianta eu me achar a imortal perfeita, porque enquanto o mundo gira, tudo pode mudar.

Mas, como dizem que acontece com as grávidas, que sempre veem muitas grávidas nas ruas quando estão no auge de seus barrigões, tenho visto mais idosos do que antes nas cadeiras de rodas, empurradas em geral por acompanhantes. E não critico. Com sorte e alguma condição, essas pessoas podem ter acompanhante enquanto seus filhos trabalham (pena que é difícil encontrar alguém que cumpra de fato o seu papel de acompanhar, cuidar e dar a atenção que o idoso precisa).

Tenho a impressão, não fundamentada em estudos, de que a medicina resolve muitos problemas que levavam as pessoas à morte mais jovens antigamente e, com o aumento da expectativa de vida e de novos medicamentos para muitos males, o cérebro acaba sobrecarregado, por isso vemos mais pessoas sofrendo dessas doenças neurológicas. Se faz sentido científico? Não sei, pode ser que nenhum, é só a minha teoria.

Quando se tem uma pessoa com este problema de saúde por perto, toda a família acaba doente de certa forma, diante da impotência na cura dessas doenças. Requer um esforço sobre-humano e um entendimento enorme da vida, além do exercício da resignação, aceitar que aquele ser que você ama aos poucos vai se transformando num bebê. Só que enquanto um bebê é bonitinho, fofinho, está em fase de aprendizado e tudo é lindo em seus erros, a pessoa está em fase de ‘desaprendizado’: primeiro tem lapsos de memória, depois se perde, faz coisas esdrúxulas das quais os outros riem, para de andar, de falar, de sorrir e até de expressar qualquer coisa pelo olhar, fazendo com que alguns naturalmente os abandone, como se a pessoa não estivesse percebendo mesmo, o que é muito cruel.

O assunto não é brincadeira e se prolifera cada vez mais nas redes sociais como mote de humor. Por isso, na próxima vez que alguém tiver uma falha de memória, não pergunte rindo se ele tem Alzheimer. Essa piada não tem graça nenhuma.