19.06.2015 / Crônicas
Limites

Todos nascemos com um limite intransponível: a morte. Mas se vivêssemos pensando nele, nada realizaríamos. Quando minha mãe foi diagnosticada com uma doença degenerativa, por anos não aceitávamos aquela condição. Entrávamos e saíamos de consultórios, num deles já sendo conduzidas à porta, ao ouvir do médico: “Vocês entendem mais da doença da sua mãe que eu, sendo assim não posso ajudá-las”. Eu e minha irmã olhamos mamãe sentada na cadeira de rodas, era noite, estávamos no meio da rua. Mamãe olhando para o além e as filhas prestes a começar a brigar. Não havia solução.

Conversando com um amigo que perdera a mãe para uma doença semelhante, o Alzheimer, ele calmamente me disse: “Você precisa aprender a resignar-se. Enquanto não aceitar que não há nada que possa fazer, vai continuar sofrendo”. Eu já estava desesperada e, teimosa e perseverante, dei o braço a torcer. Foi um dos momentos mais importantes da minha vida: reconhecer o limite que se impunha. Saber que ali estava um muro e eu, sozinha, não poderia derrubá-lo poeticamente só por causa da minha força de vontade. 

Aceitar as limitações é o primeiro passo para o crescimento. Saber lidar com as dificuldades e ter que descobrir novos caminhos para encontrar uma saída é o que ajuda a moldar a nossa personalidade e nos dá coragem para reaprender a seguir adiante.

Infelizmente, também não podemos obrigar todo mundo a pensar como nós pensamos e está aí um outro passo importante: reconhecer a divergência de opiniões e respeitar o pensamento alheio. Este é outro limite no qual esbarramos diariamente. É possível que você encontre argumentos para sustentar seu pensamento e dissuadi-lo, mas nem sempre o ouvinte estará disposto a ouvi-lo e entender o que você está dizendo.

Há uma frase que circula por aí: “Sou responsável pelo que eu digo, não pelo que você entende”. É preciso admitir que cada um tem sua formação, sua cultura, e o limite da comunicação também passa por aí. Desde que nascemos, temos limites: o das grades dos berços, o das paredes do quarto, da porta da sala, de quando aprendemos a começar a andar, dos transportes, das cidades, dos estados, dos países. Sem perceber, crescemos tateando e indo além, um pouco de cada vez como no ditado da água mole em pedra dura…

É preciso coragem para aceitar o que não podemos mudar e coragem para conseguir driblar as barreiras e vencer. É desta equação que surge o equilíbrio para viver, sem pensar que a morte existe. Sigamos.