24.06.2015 / Crônicas
No controle do tempo

O casal não acordou e não embarcou no avião que caiu rumo a Paris. A moça bonita resolveu ir para casa e não emendou naquela festa, onde viria a conhecer seu amor. Com raiva, um outro rapaz pegou o primeiro ônibus que passou. Depois de terminar um namoro, a menina não saiu com os irmãos para o bar da moda. Um outro casal: o namorado mentiu, dizendo que a havia traído, e a mulher saiu de noite sozinha pelas ruas para beijar alguém. Só anos depois ele contou a verdade: era mentira. O despertador não tocou e você perdeu a hora.

Acontece o tempo todo. Mas muda o rumo e a vida segue sozinha, escapando do nosso controle por um triz. E se eu não tivesse gritado? E se eu tivesse ignorado? E se eu não tivesse olhado? E se ela tivesse pego o exame errado? Será destino ou controle da situação? Tentar controlar os dias é narcisismo, diante do qual as pessoas sucumbem, pois a rotina está cheia de imperfeições e imprevistos. E talvez seja desses pequenos furos que a vontade de acertar se manifeste, provando que o impossível existe. Acredite.

Filmes sobre o tempo e o destino sempre deixam a sensação de que um sapo passou pela garganta. Do pop “De volta para o futuro” (1985) a “O curioso caso de Benjamin Button” (2008), passando por “A dona da história” (2004). Eles expressam a noção exata do poder de decisão e de não-decisão que movem a nossa vida e do quanto alguns fatores não dependem de nada disso. E se eu não tivesse desistido? A não-decisão também é uma decisão. Não adianta chorar sobre o leite derramado. E se fôssemos realmente os donos da história?

A vida é curta. Se pudéssemos dar um ‘stop’ e ‘rewind’ como nos aparelhos de som e DVD, para onde voltaríamos? Teria como ser como as antigas fitas cassete? Você não queria mais uma música, não tinha mais espaço, gravava por cima. Uma bifurcação se abre para contar a história de uma pessoa a partir de um momento crucial, dividindo-a em duas vidas paralelas, se ele tivesse ou não acontecido. Em que momento crucial você gostaria de parar, voltar e assumir o controle?

Sabemos, isso é balela. Sempre tive consciência plena de que não dá para voltar. A energia da vida flui em pequenos detalhes, imperceptíveis no dia a dia. Azul ou amarelo? Vestido ou calça? Cabelo solto ou preso? Falar ou calar? Fugir ou ficar.