19.06.2015 / Crônicas
Nossas várias camadas

Já fui muito criticada por isso, mas sou daquelas que acham que o trabalho enobrece o homem. Aquele pensamento bem classe média, de querer carteira assinada e casa própria. Enquanto que para uns isso representa a prisão, para mim sempre representou a liberdade. Não quer dizer que seja a forma correta de pensar, mas é uma forma, o meu modo de encarar as coisas, o meu certo. O trabalho me deu casa, comida, roupa lavada, a oportunidade de conhecer diversos cantos do mundo e de poder me mimar, coisa que nunca fui pelos meus pais. Então, para mim, trabalho representa se sentir útil, ter dinheiro para pagar as contas e mais.

Por isso, não sei desvencilhar a pessoa da profissão e quando vou aconselhar alguém sobre que rumo tomar na vida, digo que a pessoa deve fazer o que lhe faça feliz, pois vai fazer bem feito e cada vez melhor e com aquilo lhe dando mais satisfação. A parte chata existe. Na minha profissão e na de todos, pois ficar à toa com dinheiro caindo do céu seria melhor, mas ainda não se descobriu que árvore é aquela que dá dinheiro. E olha que sou apaixonada por plantas… Sei que isso já foi dito mil vezes e que eu poderia até ser rica se não pensasse dessa forma, mas como não consigo separar a pessoa do que ela faz para viver, acredito que escolher o trabalho ideal soma pontos. E muitas vezes, mesmo quando a gente odeia o que faz, se no fundo a gente ama, faz com paixão e com paixão tudo é melhor. Todos os jornalistas que têm filhos jornalistas estão aí para provar: devem ter falado mal da profissão muitas vezes para o filho e hoje ele é o quê? Jornalista. Uma vez eu mesma fiquei umas duas horas no telefone com uma prima tentando convencê-la a fazer Direito e o pai dela me ligou todo feliz que ela tinha passado para Jornalismo. “Mas como?”, perguntei, indignada. E ele falou que ela se encantou com a forma apaixonada como eu descrevi a profissão. E na minha cabeça eu tinha falado tão mal. Ou seja…

Muitas vezes, em mesa de bar, homens questionaram por que Ronaldo Fenômeno ficava com tantas mulheres lindas. Isso era conversa certa há uns 15 anos, desde os tempos da belíssima Susana Werner. Na maldade, respondiam: “Dinheiro. E se ele fosse trocador e não jogador?”. E eu acreditava no amor. Para mim, aquela visão dos meninos era preconceituosa. A pessoa é o que ela é, o todo, incluindo a profissão. E aí ele já era um grande jogador, um ídolo. A beleza está onde ela está, e não onde você quer que ela esteja (essa é de Madonna). Enfim, o feirante que sorri feliz é interessante: gosta do que faz, vende mais frutas. O médico dedicado, que ainda tem coração. O bom ator. O apresentador que mantém seu carisma… Exemplos não faltam.