31.12.2015 / Crônicas
Por um mundo com menos desdém

Em 2016 eu quero mais entendimento. Menos mal-entendidos, mais comprometimento, mais verdades, mais amor.  Que ninguém apenas repita o que lê por aí. Informações para sustentar diferentes e opostas opiniões existem. Sempre, claro. Mas que a gente busque menos argumentos para embasar nossas ideias formadas. Que tenhamos mais paciência e um pouquinho de dom para ouvir.

Que nossos corações não se apertem tanto mais. Principalmente à noite. Quando os problemas parecem indissolúveis e não há como resolvê-los. E só temos R$ 10 na carteira. Meu Deus! Mas e se uma emergência ocorrer? E se eu precisar pegar um táxi agora, de madrugada, e pagar em espécie? Estou em casa, já vou dormir, mas, sei lá, e se acontecer alguma coisa? Os medos gritam.

Quando a minha mãe estava muito mal, doente, longe de mim, e eu era escrava dos toques de telefone, um experiente neurologista me disse: “Não atenda mais se não puder. Quando sua mãe morrer, não há nada que você possa fazer e a notícia chegará prontamente”. O que pareceu frio foi um conselho para a vida. Nem toda urgência é urgente, porque quando o imponderável da vida se aproxima, não há nada que nós, reles humanos, possamos fazer.

O que podemos fazer?

Talvez, manter elevado o nosso otimismo na vida, ter esperança, saber que ali depois da curva tem um caminho que segue. Há a chuva, a tempestade de vento, mas no horizonte um sol desponta entre pesadas nuvens. Não é metáfora, não é clichê. Aconteceu comigo na Ponte Rio-Niterói. O meu filho perguntava: “Mamãe, por que o carro está parado? Mamãe, por que papai saiu do carro? Mamãe, por que está chovendo?” Eu dizia: “Vai passar. Olhe ali para frente, a luz num buraco no céu!”. Ele, quando acorda, diz: “Mamãe, olha o céu azul”. “Mamãe, por que o céu hoje está branco?”. A vida é assim, cheia de dias diferentes do que esperamos, incompatíveis com a meteorologia. E ainda assim não temos que seguir?

Como escreveu um amigo, que siga com mais coerência. Não apenas com a obrigação de viver. Não foi exatamente com essas palavras, mas foi o que quis dizer. Que faça mais sentido. E que passemos a valorizar essa vida de todo dia, com céu de diferentes cores. Estamos vivos. E isso jamais pode ser piegas.

Por isso que vou tentar relevar sempre e todo dia qualquer mal que me fizerem. É difícil. Totalmente. Mas não é impossível. Por um mundo com menos desdém.

Claro que situações violentas são odiosas e trazem ira, sentimentos ruins, como desejo de vingança. Releve. Que nossos desejos mais secretos sejam de amor e benevolência. Que o bem vença o mal. Diariamente. Trabalho de formiguinha. Morro acima carregando a folha do tamanho de seu peso. Mas que tem um motivo tem: para ser grande é preciso ser inteiro. Não fui eu que disse e, sim, Fernando Pessoa.

Chegou a hora de pararmos de viver mais ou menos. Com coragem ou sem, o nosso dia só vai chegar quando for a hora. Então vamos com coragem. Todos os dias do ano.