18.06.2015 / Crônicas
Qual o seu prazer secreto?

Meu mundo por um café com leite, pensou, desejando muito sentir o cheirinho do café fresco e dosar a medida exata de leite para chegar na cor que a satisfaz. Mas, naquela semana, Dora resolveu pegar leve — nem café com leite podia. Foi checar o Facebook e logo viu um post do amigo Fabiano: “Tem alguém berrando o amor de madrugada nos bares? Ou está todo mundo acordando cedo pra tomar suco ‘detox’?”. Vinda de um fim de semana de excessos, de amor berrando e corpo desenferrujando, olhou para o copo de refresco de abacaxi, hortelã e chia, a semente da vez, e tentou não ser dura: viu equilíbrio em nome do sábado e domingo bem vividos.

No dia seguinte de chuva, sem dinheiro na carteira e com apenas dez minutos para chegar, pensou no café com leite e no quanto todos dão valor a uma coisa quando perdem. No quanto uma pequena ação como beber um café com leite quentinho enternece. Se tem um clichê que é fato nesta vida é este: quando a gente fica sem, sente falta, quer de volta. É claro que é possível livrar-se dos excessos, viver com menos. Mas tem sempre aquela dose bem pequena que nos dá coragem e nos fala tanto. Aquele prazer mínimo que quase ninguém sabe.

Uma vez, com um amigo, resolvemos fazer, cada um, a lista do que nos fazia bem. Se faltasse tempo e dinheiro, e até um pouco de saúde, uma gripe nos abatesse, o que nos traria aquele conforto calmante? Morri de rir ao ler a lista dele. Entre as coisas, tinha: “Jogar banana estragada fora”. Como assim? Que prazer é esse? Como jogar banana estragada fora pode fazer parte da rotina de alguém e, pior, trazer algum prazer? Ele me explicou que não tinha coragem de arrancar algumas frutas da penca para não deixar a pior parte para os outros. Sendo assim, levava no mínimo a dúzia para casa e não conseguia comer tudo. Ao longo da semana, via cada uma passando de amarelo canário a marrom sem poder fazer nada, pois não dava conta de comer aquilo tudo e, quando via que já estavam marrons e prontas para irem ao lixo, ficava aliviado: não ia mais estragá-las e poderia comprar fresquinhas para comer. Por que não transformá-las em doce? Vai entender.

Cada um tem seus segredos, seus sonhos, seus planos. O que é bom para você não é bom para mim. Se isso te faz feliz não quer dizer que me fará feliz também. “O que seria do azul se todos gostassem do amarelo?” — pergunta frequente de Dora. Não desconfio dos gostos pessoais. São autênticos, verdadeiros, estão no DNA.