24.06.2015 / Crônicas
Questionários

Filme preferido? “Castelos de Gelo e ET.” Tem um sonho impossível? “Ser campeã mundial de patinação no gelo.” Mar ou montanha? “Mar.” Sol ou lua? “Sol.” Já beijou? Quem? “Não posso revelar.” Qual sua idade? “14 anos.” Antigamente, na época da minha adolescência, a melhor parte do recreio era responder questionários. Eu trocava até o tempo da fila do cheeseburger e não comia para responder logo. A mania começou com umas 32 perguntas, passou para 64 e teve uma amiga que conseguiu formular 131 perguntas. Mas, claro, deve ter tido a ajuda da mãe, comentavam. Pode parecer bobo, um monte de perguntas num caderno, mas era bom. Ali se sabia tudo sobre uma pessoa.

E como se diferenciavam as respostas? A primeira pergunta, claro, era seu nome completo. Em geral, a dona do questionário era a número 1; no número 2, vinha a sua melhor amiga; e no 3, a sua segunda melhor amiga. Se você estava perdendo seu posto, logo via: passava a ser a quarta ou quinta pessoa a responder. A moda era marcar a personalidade com caneta colorida: rosa, turquesa, roxa. Ou aquela escrita fina, tipo hidrocor, verde ou preta, mas essa não era muito legal, pois borrava se alguém chorasse em cima do caderno. Também era muito usada para fazer drama em fim de namoro: você pedia para responder de novo e no “Tem namorado?”, respondia “não”, assim bem triste, com letra minúscula. Depois, molhava a mão na pia e pingava uma gota d’água na letra para formular a lágrima. Cabia à sua melhor amiga, dona do questionário, dar para o fulano ou o melhor amigo dele responderem depois. Era receita de reconciliação na certa. E menino legal já tinha visto “O Retorno de Jedi”. Se o namoro desse certo, vocês corriam para assistir ao “Feitiço de Áquila”.

Hoje, todo mundo sabe tudo de todo mundo. Você escreve na Internet, bota suas fotos, seus gostos, toda a sua árvore genealógica e aí o conhecer fica um pouco sem mistério. Um amigo me falou da dificuldade que tem para conseguir se conectar com os amigos: a sobrinha sobe 550 fotos por dia em sua rede social e lota os ‘updates’ dele. Com isso, ele mal consegue acompanhar a própria vida — a da sobrinha muito menos.

Falta atividade lúdica neste 2010, digo 2011… ou já estamos no 12? Brincar de questionário, de ‘Onde vivem os monstros’, desenhar tatuagem na perna, enfeitar a casa — e não comprá-la inteira sem história numa loja de decoração —, fazer uma receita de família… Eu gostava de sonho.