13.11.2015 / Crônicas
Ser mãe é muito difícil

Quando a mãe que mora em você nasce, junto com seu filho, nós, completas desavisadas, passamos a entender bem mais sobre a verdade da vida. Mesmo que tenhamos conversado com as mães mais espetaculares e experientes, acompanhado os sites e lido os livros do gênero, não sabemos de nada. Ninguém comenta a parte desgastante da maternidade com a ênfase que exibe as gracinhas do filho no celular. Ela é tabu, não se pode macular algo tão divino.

Se seu filho que começa a sair das fraldas não entende que tem que esperar horas num hospital por atendimento e você entende, mas comenta que ele é muito levado, logo uma voz se levanta em defesa da criança e contra você: “Ah, mas essa fase é maravilhosa! Eu gostava!” Como quem diz: “Que absurdo! Você não gosta”. Alguém aqui disse isso?

Eu amo, já escrevi alguns textos sobre o quanto esse amor é transformador, mas isso não significa que ser mãe não seja muito difícil. “Ah, então vai ver você não estava preparada para isso!”. Aos 41 anos e com um filho realizado, é claro que eu já entendia toda a complexidade da coisa. Uma amiga que converso bastante, mais velha que eu, e que resolveu não ter filhos, entende e sempre comenta: “Eu sofreria igual, pois não somos superficiais”.

Isso significa que o lado nem tão mágico assim da maternidade, tá bem, o lado ruim, existe. Por mais atenta que você seja, pode ver seu filho cair nos seus pés e ouvir seu osso quebrando. Isso dói demais, a ponto de querer ter sido você a vítima. Genuinamente. Pode correr com ele para o hospital sozinha em seu colo e, aflita, ter que encarar a médica desconfiando de que você seja uma mãe histérica até ver o raio X da criança e constatar a fratura. Em outra ocasião, pode ouvir de uma outra médica um diagnóstico (im)preciso de que seu filho está com toda pinta de quem come muita farinha e biscoito, sendo que você preza e se orgulha que ele coma todas as frutas e legumes e até o fígado que você nunca encarou – e por isso seja uma carrasca para a família, que quer encher a criança de balas. Ser mãe significa, também e muito, estar sempre diante do julgamento.

Não importa que a gente faça o nosso melhor. O conto de fadas sobre a vida alheia é o que prevalece para os outros.

Aquele pingo de gente a desafia e nas primeiras palavras já é capaz de dizer que quem manda na casa é ele. Mas você deve achar lindo. Caso contrário, não tem sensibilidade e é uma bruxa má. Mesmo que ele me corrija para “mamãe bonita” quando me chamo de “mamãe doida”, são os erros e nosso amadurecimento de enxergar o que está errado que muitas vezes ficam para os estranhos.

Uma outra amiga, essa piadista nata (afinal, é uma das editoras responsáveis pelas cultuadas manchetes do ‘Meia Hora’), me acalmou: “Ih, eu ia denunciar meus vizinhos, mas depois de tudo que você me contou, vou denunciar a criança”.

Piadas fora da conversa, ser mãe é amar a ponto de admitir estar exposta em toda a sua natureza humana. E por mais que isso nos faça sofrer, não importa. Porque você está mais é preocupada em criar um adulto saudável. E que de preferência não julgue se não for juiz.