18.06.2015 / Crônicas
Sonhos de verão

Sonhei que estava com amigos naquelas praias que a gente anda quilômetros mar adentro e continua com a água pela cintura. Poderia ser a Lagoa de Araruama nos áureos tempos, mas era uma dessas praias paradisíacas do Taiti. E o melhor: tinha um deque compridão, onde apoiávamos muito luxo e riqueza. Champanhe, flores tropicais, uma barraca bem linda e branca que nos dava sombra. Também tinha muitas frutas coloridas.

Sim, fruta é luxo. Na viagem ao Catar, Oriente Médio, a trabalho, no hotel cinco estrelas, faziam parte da decoração do quarto três pequenos quadrados de aço escovado (prateados-foscos), pedestais para três maçãs brilhantes de Branca de Neve, no dia em que chegamos, depois de 18 horas de viagem. Como lá eles produzem apenas 5% dos alimentos que consomem, a terra é árida e falta água, fruta é tudo que se pode ter de bom. Aquilo que jogamos no lixo na xepa da feira? Pode crer que tem valor. E pode fazer disso uma metáfora: não se jogam fora assim as coisas.

Fato é que, a cada dia, quando eu voltava do trabalho, as frutas tinham sido trocadas. No segundo dia eram ameixas, vermelhas escuras, e no terceiro, bananas. Eu ri quando o camareiro chegou com as bananas e eu estava num momento de entra e sai do quarto. “Desculpe, senhora, posso repor as frutas?” “Claro”, abri a porta. E o cara segurando aquelas bananas como se fossem ouro. E aqui a gente tratando as bananas como se tivessem preço de… banana. Até guardei uma, antes de trocarem de novo, para quando tivesse fome. Enfim… situações. Às vezes corriqueiras, mas logo valorizadas, dependendo do contexto.

Sendo assim, eu conversava com um amigo, bebíamos num bar, falávamos de nossos amores, quando começamos a sonhar com viagens. Qual o seu sonho? Uma vez, falei: “Mas a gente não tem carro e vai viajar?” E o interlocutor, prontamente: “Claro, carro se compra a qualquer momento. Viagem, não”. Faz sentido. Viagem tem como, quando, onde, por que e como. As cinco perguntas (e respostas) para o lead do jornalismo, o primeiro parágrafo. Quando alguém enrola para me contar uma história, logo mando um clichê da nossa profissão: “Okei, mas e o lead?”. Diz logo e depois desenrola a conversa! O lead é que viajar é como respirar. Faz bem para a alma, conhecemos novas culturas, sentimos novos cheiros e sabores, vemos novas cores, despertamos sentimentos. E o que isso tem a ver com o início da conversa? Quando a gente encontra alguém para amar, não tem medo de ser cafona, ficar dentro do mar, e logo pensa: “Com você eu iria para o Nordeste”. Bom verão!