30.10.2015 / Crônicas
Um pouco de calmaria

O que eu quero hoje? Um pedaço de chuchu, uma maçã, um chá de água morna, gosto de nada.

Mingau de aveia, pasta de dente sem flúor, xampu neutro, cortina fechada pra cortar a luz – não precisa ser breu.

Hoje quero um edredom leve, lágrima escorrendo sem que eu perceba, um gole de água na temperatura ambiente.

Não quero sobressaltos, nem voz alta. Não quero grito, discussão, nem dar opinião.

Quero cheiro de banho tomado levemente quente e sem perfume.

Carinho de mão de criança, sorriso calmo e alguém que me dê a mão.

Quero aviso prévio, gratidão.

Hoje não quero olhar enfática, defender o que penso, não quero respeito, nem perdão. Zerada estou. Não tenho nem o que perdoar, pois não guardo rancor. Minha raiva dura cinco minutos.

Quero o barulho calmo do mar de marolas chegando na praia. Sol de outono. Natureza morta.

Roupa de saco de algodão, pé na argila molenga, prevenção.

Dedilhado de violão, praia deserta, olhar terno.

Pureza de espírito, ausência de medo, olhar furtivo, encontro por acaso. Olhar que se cruza ao destino, ninho, vagareza.

Hoje eu quero ser água viva. Mas sem queimar ninguém.