18.06.2015 / Crônicas
Uma crônica sobre o amor

Existe amor ruim? Dizem que sim, quando faz mal, as pessoas brigam, cobram serem amadas, acordam com o coração palpitante, não conseguem ser atendidas pela outra, vasculham o celular ou estão sempre atrás de pistas de que aquela pessoa não as ama. Quando você se doa e não recebe de volta — porque sim, salvo raras exceções, todo mundo que dá quer receber — abala. Inclusive eu sou adepta da Oração de São Francisco e acredito que é dando que se recebe, por isso procuro amar e fazer o bem, mas é mentira se eu disser que não espero retorno. Isso me torna menos nobre? Tudo bem. Sou humana e plebe.

O amor bom é pleno, livre de interesses. Você quer estar ao lado daquela pessoa simplesmente. Gosta da companhia dela. Só de saber que ela existe, sorri. Ela pode estar do outro lado do mundo e você sabe que ela está ali. Ao alcance. Sabe que estará disponível a hora que precisar para dar o seu amor.

Amor é gesto. Gesto despretensioso de se dar e, quando você é amado em troca (quando “a recíproca é verdadeira”), gesto despretensioso de ser amado. É ouvir a voz da pessoa e se acalmar, é passar por uma agonia e querer saber: o que fulano pensaria? É rir junto, chorar junto, odiar junto, ser passional só de cena. É ter afinidade. “Eu gosto da Mary porque ela tem peso pluma”, ele disse. “Sabe, ela não me cobra nada, simplesmente nos encontramos quando queremos encontrar, quando o tempo permite”. “Entendo, eu também gosto da Ju por isso”. Uma amizade amorosa, em que a pessoa compreende a sua rotina, seus defeitos, suas falhas. Afinal, ela falha também, “mas quando der a gente se encontra” e não reclama, porque o prazer de estar junto exala amor.

Um outro chato que eu conheci… Sim, quem a gente ama a gente pode chamar de chato, a gente pode falar o que pensa, a gente não fala carregado de rancor, a gente é sincero, e o interlocutor entende, porque conhece sua alma. Na primeira tentativa de amizade e aproximação, o chato falou: “Não falo sobre a minha vida pessoal”. Nunca mais perguntei e tenho certeza, hoje, que ele é meu amigo.

O amor cede, o amor diz: “Quer saber? Você descobriu, mas não vou mudar a senha do meu celular”. Porque espero de você amor, lealdade, jogar junto. Não tenho nada a esconder, nem quero, seja lá o que for. Mas se seu amor for puro, você vai confiar em mim, que estamos juntos porque queremos estar, porque somos adultos. O amor bom se entrega, confia, sabe a verdade. Mesmo que ela não seja tão bonitinha assim.