26.09.2015 / Crônicas
Brincar de ceder

Eu tenho resolvido ‘brincar de ceder’. Para pessoas que gostam de ter o controle de tudo, é um excelente exercício. Fiquei pensando sobre isso quando um desses conhecidos que são apaixonados por gatos (eu sou da turma dos cachorros) falou que só os autoritários não gostam dos felinos. Faz sentido. E também não é assim… Eu gosto de gatos, não tenho aversão, como acontece às vezes.

Enfrentei uma separação morando uns meses na casa de uma amiga que tinha o gato como o rei da casa. Ele não se conformava com a minha invasão e fazia questão de passar o dia enfiado na minha cama, para mostrar de quem era o quarto e quem mandava naquele pedaço.

Aos poucos, fomos nos conhecendo melhor, até que um dia eu acordei e lá estava ele com a cara bem em frente à minha, focinho no meu nariz, aqueles olhos enormes de quem vai dar o bote… mirando a minha alma. Eu cedi e falei: “Te amo, Mingau”. Ele… nhac! Mordeu a minha bochecha e nunca mais me deu papo. Esse é só um exemplo de por que eu tenho um pouquinho de dificuldade em render-me. Acho que sempre vou me ferrar, como aconteceu na convivência com o homônimo do bichinho de estimação da Magali, da ‘Turma da Mônica’, de Mauricio de Sousa.

Mas tenho notado que baixar a guarda faz um bem enorme. Se está tudo difícil, se há coisas que não podemos mudar, temos que ceder em outros pontos, ou ninguém aguenta. O pescoço começa a endurecer, dói a coluna e até a pressão sobe, passando da casa dos 12. O ambiente está bagunçado um dia? Relaxe. Ninguém vai morrer por isso. Não quer gastar energia discutindo? Só ouça, não fale nada além do necessário, silencie. Não deixe que se magoem com o que você não fez. Às vezes, querem nos imputar uma culpa por algo que nada tem a ver com qualquer ação nossa… É o prazer de transferir a responsabilidade por alguma coisa mal feita para o próximo. Assim fica mais fácil para quem se faz magoado. Piscou mensagem no celular do marido/mulher? Nem olhe… Primeiro que é indiscrição, segundo que a gente tem que ser mais a gente, se não deu certo não era para ser. Ter o controle sobre tudo cansa. Hoje, por favor, me controle.

Ah! Como liberar as amarras traz leveza!

Costumo entrar no táxi e definir cada curva do caminho com o motorista. Mas hoje não. Dei só o destino e pensei: “Deixa ele fazer o caminho dele.” Assim, os controladores ‘brincam de ceder’. Ele está fazendo o caminho dele, mas eu que deixei. Se enganar de vez em quando é bom.