26.09.2015 / Crônicas
Qual o seu pecado?

Os pecados são vistos com uma certa benevolência. Mesmo os mortais, dos quais não há arrependimento, nem mesmo pedido de perdão, nem perdão. Lista da qual todos deveriam se livrar em nome de um lugar no Céu, mas que vai-se levando. Gula? Perdoável. É vista com generosidade, na figura bonita da saúde, de quem gosta de se fartar, nunca de alguém que tira do outro para comer. Gula parece ser o mais fofo dos pecados.

A preguiça é um pouco criticada, mas também não é muito malvista. Avareza, “pô, aquele cara é pão-duro”, é o ganancioso mão de vaca, que feio; inveja, “ah, é só uma invejinha branca”; luxúria? Em geral, associada a paixão e sexo, quase elogio nos tempos de hoje; ira? Prefiro cultivar a paz e o amor a ceder ao desequilíbrio emocional. E a vaidade? Dessa quase ninguém fala como defeito, em geral é associada ao indivíduo que se cuida.

Mas em nome da vaidade se cometem outros pecados, é um pecado que frequentemente leva a outros, por isso, para mim, é o pior, o mais execrável, o mais distante do amor. Em nome da vaidade, perde-se a dignidade. Traiu um amigo? Pense no motivo. Vaidade. Passou a namorada para trás porque foi cobiçado? Vaidade. Entregou o outro quando o chefe flertou com uma promoção? Vaidade. Invejou a roupa que caiu bem em outra pessoa? Vaidade. Derrubou alguém por se sentir preterido? Vaidade. Respondeu a um e-mail sem querer para incentivar uma paquera e ter o ego fortalecido? Vaidade, um mix de orgulho e soberba. Excesso de elevada autoestima.

Sente-se superior em raça ou credo? Vaidade. Sentimento negativo de arrogância. Não é preciso ter dinheiro para cometê-lo. Acha sua opinião sempre melhor? Vaidade. Errou e não reconhece? Quer aparecer a qualquer custo, a fim de atrair inveja e admiração? E se não consegue, logo se deixa abater pela mesma inveja e deprecia o objeto de sua comparação? É uma bola de neve de pecados. Não é só se olhar no espelho e se achar bonito. Então, livre-se deste pecado o quanto antes.

Falo sobre o assunto de forma leiga, sem nenhum estudo teosófico ou psicológico, mas vejo que em nome deste pecado são cometidas atrocidades. De maldades pessoais a doutrinas totalitárias como nazismo e fascismo. Percebo que a saída é olhar menos para si e mais para o mundo, em busca da virtude que é inversamente proporcional: a humildade. Em busca da simplicidade, aprende-se a respeitar para ser respeitado.