26.09.2015 / Crônicas

Eu tenho resolvido ‘brincar de ceder’. Para pessoas que gostam de ter o controle de tudo, é um excelente exercício. Fiquei pensando sobre isso quando um desses conhecidos que são apaixonados por gatos (eu sou da turma dos cachorros) falou que só os autoritários não gostam dos felinos. Faz sentido. E também não é assim... Eu gosto de gatos, não tenho aversão, como acontece às vezes. Enfrentei uma separação morando uns meses na casa de uma amiga que tinha o gato como o rei da casa. Ele não se conformava com a minha invasão e fazia questão de passar o dia enfiado na minh...[continuar lendo]

26.09.2015 / Crônicas

Os pecados são vistos com uma certa benevolência. Mesmo os mortais, dos quais não há arrependimento, nem mesmo pedido de perdão, nem perdão. Lista da qual todos deveriam se livrar em nome de um lugar no Céu, mas que vai-se levando. Gula? Perdoável. É vista com generosidade, na figura bonita da saúde, de quem gosta de se fartar, nunca de alguém que tira do outro para comer. Gula parece ser o mais fofo dos pecados. A preguiça é um pouco criticada, mas também não é muito malvista. Avareza, “pô, aquele cara é pão-duro”, é o ganancioso mão de vaca, que feio; inveja, “a...[continuar lendo]

26.09.2015 / Crônicas

Ele ficou três dias sem ir à creche e, quando voltou, estava entrando para almoçar, deu de cara com ela, Marina, saindo do banho no colo da outra professora. A mãe olhou para a menina, olhões expressivos de desenho japonês, pele tão alva quanto a do seu branquelinho, e falou: “Ah, então você é a melhor amiga dele!” Séria, a bebezinha desviou o olhar para o menininho, ambos com seus 10, 11 meses, e ele abriu o seu melhor sorriso, esticando o bracinho para ela, mostrando toda sua banguelice, ao som de “ohhhss” e “ahsss” das testemunhas, encantadas. Soubera semanas antes...[continuar lendo]

29.06.2015 / Crônicas

Um dos maiores problemas do mundo é o da interpretação. Interpretação errada. Muitas vezes, pergunto: “Você não teve aula de interpretação de texto?”. Eu tive, com a inesquecível professora de Português Ana Castro, que tinha fama de má, mas era ótima, não dava mole para ninguém, por isso era considerada carrasca, embora fosse apenas exigente. Exigia que os alunos aprendessem. Exigir, um verbo que jamais deveria ser ignorado pelos educadores. O professor está lá para ensinar, e não para dar um jeitinho de você passar de ano. Esse que faz isso, sim, é carrasc...[continuar lendo]

29.06.2015 / Crônicas

Tão bonitinha a menina falando na televisão que não queria se corromper. Gostaria de continuar sendo boa, humilde, dando importância aos valores que a mãe ensinou. Ela começava a realizar o sonho de seguir a idealizada profissão com uma oportunidade de emprego nos Emirados Árabes. Com aquela coragem do início da juventude, o conhecimento parco de quem estudou sobre o lugar em que viveria a partir dali — sem a vivência —, embarcou feliz, deixando a família toda aos prantos no aeroporto. Choravam de felicidade e saudade ao ver a mocinha partir. Mexeu comigo, como era de se espe...[continuar lendo]

29.06.2015 / Crônicas

Segurar uma pessoa inteira nos seus braços, envolvê-la, ter no seu abraço um corpo em miniatura e protegê-lo do mundo são superpoderes de uma mãe. Entre seus ombros e suas coxas, repousa o ser diminuto, coberto por uma aura de amor que só seu colo produz. Uma sensação de proteção que podemos até não buscar ao longo da vida, mas sabemos identificar a alma plena quando nos deparamos com ela. Ser filho: poder entregar seu peso nas mãos de alguém, sendo que esse peso é leveza para quem o recebe. Uma troca justa e bem arquitetada na criação do homem. Para a mãe, a satisfação...[continuar lendo]

29.06.2015 / Crônicas

Dos ensinamentos de dona Esther Paschoal, uma avó que nunca precisou tirar objetos de arte e tapetes persas do convívio de seus netos (eles tinham que "se comportar"), ficou-se a conclusão de que ter cerimônia contribui muito para o bem dos relacionamentos. Ela não gostava de música americana, não deixava os ombros de fora, acordava, vestia-se elegantemente e calçava um sapatinho colorido de salto (verde ou vinho eram suas cores preferidas). Odiou quando inventaram as Havaianas. Sempre advertiu: "Bote uma sandália decente, pois nunca se sabe quem vamos encontrar na rua". Isso muito...[continuar lendo]

29.06.2015 / Crônicas

Livros que compramos para um dia poder ler; horas de sono que queremos ter seguidas, mas que não há como armazenar; a condição climática de todo outubro a essa época - de constante mormaço, num pré-compasso para os dias quentes que virão; aquela horinha da manhā em que é preciso coragem para pegar fôlego de enfrentar o dia; a tristeza de quando o sol se põe, o azul é escuro no céu, mas ainda é azul, do sufocamento do entardecer. Condições ligadas a tempo e espaço, que enchem seus dias de memórias e preenchem sua vida. Associamos um tempo a uma memória, como fazemos c...[continuar lendo]

28.06.2015 / Crônicas

Há quem desvalorize o humor e o riso, dizendo frases populares como “desconfio de uma pessoa que está sempre rindo”. É um preconceito tolo, de quem dá mais valor aparente à seriedade, impregnando a vida de solenidade. Ter bom humor torna a rotina muito mais amena e é um foco inteligente para se enxergar a vida. Se duvida e precisa de base acadêmica, há vários estudos comprovando a tese numa “googlada” (copyright – com licença, Jaguar – Leandro Souto Maior). E, numa mesma busca no Google, eu encontro (cruzando ‘Freud’, ‘1927’ e ‘humor’ como palavras-chave) i...[continuar lendo]

28.06.2015 / Crônicas

Responsável pela lanchonete da academia, ele começou a contar em detalhes sua receita de bolo de fubá com raspas de limão siciliano e açúcar mascavo e como fez sucesso sua receita diferente e incrementada. De costas para o balcão, agora fazia outra coisa na batedeira e não ouviu quando a moça chamou. Ela esperou com muita paciência, pois não queria gritar, e ele continuava ali, absorto em suas ideias. Esperou uns seis minutos entre um som mais leve do aparelho e outro e tentou em tom mais alto, num intervalo: “Oi, ei, está pensando na vida?”. O rapaz virou com um sorriso: ...[continuar lendo]