19.06.2015 / Crônicas

A primeira vez que você vai à casa de alguém, quando observa cada objeto, imagina cada história que ele tem, descobre os gostos, o estilo, o olhar. É uma sensação parecida de quando se via álbuns de fotos de outras pessoas, quando elas voltavam de viagem. Se eram boas fotógrafas, logo descobria-se muito mais do que o que estava ali estampado no 10x15. Você viajava além. Com atenção, assim como na fotografia de um modo geral, era possível até se apaixonar por uma pessoa através de seus ângulos. “Que olhar!” O olhar do novo, a descoberta da novidade. É covardia ter o nã...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Na varanda do bar de frente para a praia em Ipanema, o grupo de pagode começou a tocar. Ficou por ali umas duas músicas, sem que os funcionários soubessem se estavam gostando ou não. Olhavam em busca de respostas para os clientes. Uma gringa filmava, outro grupo levantou para fotos, mas os brasileiros ficaram visivelmente incomodados, pois aquele barulho estava atrapalhando as conversas. Como interlocutora na minha mesa, estava uma amiga que acabara de voltar de Paris e, fina como ela só, disse que ia ficar devendo quando um músico passou o chapéu. Estávamos no meio de uma conversa ...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Gosto de deixar a primeira folha em branco e pular a página, para não poluir a primeira visão. E, assim, começar a escrever esta coluna com lápis e papel num caderno sem pauta. Lápis 6B, que detesto letras fracas e de pontas finas, assim como pessoa que não aperta direito a mão quando cumprimenta e também aquela que desvia o olhar quando confrontada. Gosto dos sonhadores, dos que adoram ver o bem vencer o mal, no final, ainda que isso seja só num conto infantil ou em fábulas que conhecemos desde pequenos. Em algumas histórias, o bem vencer o mal não precisa ser ingênuo — em ...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

De repente começou a tocar: “Dai-me outra cor / Que não seja a do seu olhar / Dai-me outro amor / Que venha pra me perpetuar / Dai-me outra cor / Que não tenha o que eu quero enxergar...” E mais pra frente: “Não quero mais me desmentir / Eu não vou mais te procurar”. A poesia linda da música de Felipe S, do grupo pernambucano Mombojó, é de dez anos atrás e como sempre os relatos de dores de amor continuam atuais. E na sequência vieram letras e mais letras, antigas, recentes, em inglês e em português, lembrando que o sentimento é o mesmo, quando ele se quebra, quando se div...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Estão morrendo de tédio ou o mundo vai muito desinteressante. Tudo é clichê. Até na tentativa de ser diferente todos acabam sendo iguais. As leituras apontam para o mesmo tom blasé, as notícias que repercutem são semelhantes, e é muito fácil ter audiência investindo nas fórmulas que estão aí. O que querem saber de diferente? Querem? A preguiça está estampada em livros, gostos, moda e atitudes. Os rompantes não são tão rompantes assim, são previsíveis, e pouca coisa surpreende. Até as expressões ditas são todas iguais. “Isso me dá uma preguiiiiça”, falam. Pregui...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Há 15 dias, um vídeo foi postado no YouTube e hoje já passa de um milhão e 200 mil acessos. Não é o último fenômeno do funk, mas uma experiência da real beleza promovida pela marca de cosméticos Dove. Em pouco mais de seis minutos, as mulheres têm a chance de sofrer um choque de realidade e perceber o quanto são duras com a própria imagem. Uma vez fui aconselhada a escrever sobre uma menina cuja ânsia seria perseguir fotos suas que postam no Facebook, a fim de deletar ou tratar todas elas, em busca da imagem perfeita. Sabemos que somos como somos e nosso estado de alegria ou t...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Era um homem discreto. Bethina seria incapaz de reconhecer seu tom de voz fora dos cumprimentos “bom dia” e “boa tarde”. Sabia que era um gênio quando o assunto era computador e que tinha sido um grande mecânico de motos na juventude. Também fumava muito e estava sempre observando, com as duas mãos para trás, como quem está rodeado de itens frágeis, numa sala cheia de cristais. Caminhava assim. Passo a passo... “Larga de ser fofoqueira”, disse Samuel. “É sério, aconteceu alguma coisa. Luzes que nunca foram acesas e vozes que nunca ouvi estão vindo do apartamento”. ...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Já fui muito criticada por isso, mas sou daquelas que acham que o trabalho enobrece o homem. Aquele pensamento bem classe média, de querer carteira assinada e casa própria. Enquanto que para uns isso representa a prisão, para mim sempre representou a liberdade. Não quer dizer que seja a forma correta de pensar, mas é uma forma, o meu modo de encarar as coisas, o meu certo. O trabalho me deu casa, comida, roupa lavada, a oportunidade de conhecer diversos cantos do mundo e de poder me mimar, coisa que nunca fui pelos meus pais. Então, para mim, trabalho representa se sentir útil, ter din...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

O metrô estava cheio e entrou um sujeito com um acordeom. Encostou na porta em Copacabana e começou a tocar. A cada estação, parava e puxava aplausos, até descer na Cinelândia. Assim que deu os primeiros acordes, emocionou. Eu estava pensando nos conselhos que recebi para tornar a gravidez mais saudável: “Passa creme na barriga, faz massagem, bota um som para o bebê ouvir”. E aí aquela música entrou nos meus ouvidos como bálsamo. Passei a mão na barriga e perguntei mentalmente: “Está ouvindo? Olha que lindo, bebê”. Uma moça com um jeito bem humilde sorriu para o mús...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Três dias no meio do mato, num sítio lindo, com jardim bem cuidado, flores na janela do quarto, um riacho passando pelo terreno gramado, para molhar os pés em água direto da fonte. Serra, friozinho de 17 a frescos 20 graus, Mata Atlântica densa, preservada para evitar possíveis acidentes da natureza, uma sauninha de madeira no meio do nada. Para comer? Sacolas de compras com frutas para o café da manhã, pães, variedade de queijos para a noite, quando seriam servidos entre garrafas de vinho. Saladinha? Escolha o que quiser na horta. Pode incrementar com uns ovinhos cozidos, pois tam...[continuar lendo]