19.06.2015 / Crônicas

Fiquei doente nos últimos dez dias, com meu estado piorando na última semana, necessitando de licença médica, muitos cuidados e repouso, e pude notar: ninguém mais respeita os doentes. Além de ser uma consequência de como o mundo está, hoje, é também culpa da tecnologia. Você é facilmente “encontrável” por e-mail, Gtalk, Facebook, telefone celular e fixo, e-mail do trabalho, etc. Em alguns momentos, a mesma pessoa se manifestava por quatro vias: torpedo, bate-papo, e-mail e telefonema para ver se você tinha recebido tudo aquilo que ela mandou antes por texto. Cheguei a ter de...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Cartão inválido. “Cartão inválido, senhora”, falou a caixa da farmácia para uma idosa que estava na minha frente na fila. Ela fez uma expressão de dúvida, olhou para trás e para o lado. “Cartão inválido!”, repetiu a acompanhante dela, quase berrando. E ficou um silêncio, sem nenhuma atitude. Não aguentei: “Passa de novo, nem sempre quando dá cartão inválido está inválido. Pode ser problema na rede”. A caixa não suportou a intromissão: “Calma, senhora”. “É sua obrigação tentar de novo”, eu disse. A velhinha me olhou, olhou para a acompanhante: “Tem...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Urgente. “Pedi você pra me esperar 5 minutos só / você foi embora / sem me atender (...) Você não sabe e nunca vai saber / pois você não sabe quanto vale 5 minutos na vida”. A letra da música de Jorge Ben Jor tem urgência. Mas também tem calma. Cinco minutos e a situação teria se resolvido. Cinco minutos pode ser muito e pode ser pouco, tudo pode ser solucionado, e nada. Tocou no rádio outro dia, numa versão da Marisa Monte, mas os versos sempre passam como crédito de filme acompanhando meus pensamentos, segundos antes das respostas, atitudes. São só cinco minutinhos de es...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Encostada na janela, olhando para o céu branco lá fora, fechou os olhos para sentir melhor a brisa do vento no rosto e sentiu quando ele se aproximou. “Eu vi quando você pulou”, ele disse. “Ao saltar, suas asas abriram e em instantes você estava sobrevoando a cidade como se ela fosse plana, vendo tudo de cima, de uma distância segura. Tudo ficou até no mesmo tom para você, que eu vi. Eu queria enxergar assim também, mas como eu não estava voando, eu não conseguia. Às vezes, apareciam flashes do seu rosto para mim e eu podia sentir a sua sensação de paz, como se tivesse deixa...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

Lar ou só um lugar para dormir? Mesmo numa viagem perfeita, num mundo ideal em que você possa escolher o hotel cinco estrelas com a sua cara para levar sua família, nada deve ser tão precioso quanto voltar para casa. Um tempo longe e, no retorno, redescobrir a tonalidade do amanhecer, o cheiro, a vista da janela de um ângulo que só você vê, o lar, doce lar. Seja naquele quadro do Luciano Huck ou nos programas e livros de arquitetura, é bom perceber que o conforto emociona. Quem não sonhou com uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela para ver o sol nascer ou quis uma ...[continuar lendo]

19.06.2015 / Crônicas

O burrinho de pelúcia trazido de Santorini estava lá em cima da cama. Ele parecia um pouco encalorado por conta da sensação térmica desses dias quentes, mas imediatamente veio a imagem da brisa sobre ele numa das vielas da ilha grega. Tudo branco ao redor, céu azul e vento incessante. Se você parar para admirar o céu, vai reparar: ele não está lá estagnado, as nuvens passam sem parar em filetes brancos e não fazem floquinhos. Explorando a ilha, num beco deserto, com chão de pedras grandes, lá estavam dezenas de burrinhos cinzas como suvenires: além do que enfeita a cama, havia c...[continuar lendo]

18.06.2015 / Crônicas

Eu tinha acabado de ler a notícia sobre uma inglesa detida nos Emirados Árabes. Ela bebeu demais e, segundo o taxista, teve relações sexuais com um turista no banco de trás do carro. A moça negava a acusação, mas seu passaporte foi apreendido e ela corria o risco de ficar três anos presa. Comecei a discursar sobre a posição da mulher no mundo islâmico e falei que jamais iria para o Oriente Médio. Tocou o telefo...[continuar lendo]

18.06.2015 / Crônicas

‘Deixa-me encantar, com tudo teu, e revelar, lalaiá...’, o trecho do samba ‘Das Maravilhas do Mar, Fez-se o Esplendor de Uma Noite’ (da Portela, de 1981), embalou muitos dos meus carnavais e eu berrava no auge da música: ‘A luz raiou pra clarear a poesia / Num sentimento que desperta na folia (Amor, amor)!!!’ Tinha um clima de romantismo no ar, de sedução, de suingue, que me fazia até sambar, coisa que até hoje não sei. Olho para os blocos que embalam as multidões neste Carnaval e fico nostálgica: onde esta sedução se perdeu? Com exceção dos que ainda não foram ‘des...[continuar lendo]

18.06.2015 / Crônicas

Os pecados são vistos com uma certa benevolência. Mesmo os mortais, dos quais não há arrependimento, nem mesmo pedido de perdão, nem perdão. Lista da qual todos deveriam se livrar em nome de um lugar no Céu, mas que vai-se levando. Gula? Perdoável. É vista com generosidade, na figura bonita da saúde, de quem gosta de se fartar, nunca de alguém que tira do outro para comer. Gula parece ser o mais fofo dos pecados. A preguiça é um pouco criticada, mas também não é muito malvista. Avareza, “pô, aquele cara é pão-duro”, é o ganancioso mão de vaca, que feio; inveja, “a...[continuar lendo]

18.06.2015 / Crônicas

Fica combinado o seguinte: 1) Ninguém mais vê uma pessoa parada na calçada, dá dois passos à frente e fura a fila do táxi; 2) Quem estiver com guarda-chuva debaixo de um pé d’água deve dar o lugar embaixo da marquise para quem estiver sem; 3) Não é porque você tem só um item no supermercado que deve pedir para passar à frente: siga para o caixa-rápido; 4) Se esbarrar em alguém, peça desculpas; 5) Não trace uma reta e siga em frente como se estivesse na passarela sem desviar mesmo quando vem alguém na direção contrária; 6) Não fale que daqui a pouco vai ligar se nunca va...[continuar lendo]